30 novembro 2008

In Radiohead we trust

Radiohead vem ao Brasil depois de mais de uma década de espera. Os ingressos começam a ser vendidos dia 05/12 and you can bet your ass que eu vou comprar o meu logo no primeiro dia. Tenho ouvido compulsivamente In Rainbows já tem um tempinho e nem posso acreditar que esse dia chegou. O anúncio oficial de um show do Radiohead no Brasil.

O Thom Yorke é o cara que criou a obra-prima: OK Computer. Porque eu divido minha vida musical assim, Antes de OK Computer e Depois de OK Computer.

O ano era 1997. Ainda lembro a comotion causada pelo álbum. Declarações do tipo "Radiohead lança álbum de rock sem guitarras" ou "OK Computer terá turnê? Como a banda reproduzirá ao vivo os efeitos de estúdio?". E teve turnê. E a banda ainda toca pérolas da obra-prima em seus shows. Confesso que, na minha absurda ingenuidade, não via grandes problemas. Se fizeram em estúdio é porque dá pra ser feito ao vivo, é só questão de esquematizar as coisas.

Depois veio Kid A e de novo aqueles questionamentos sobre a identidade musical do Radiohead. Coisa de gente que quer separar o que é Rock do que é música eletrônica e compartimentalizar as coisas. Pois que se misturem, no fim das contas ganhamos todos.

Agora to aqui pensando em possíveis setlists. Porque eles nunca vieram aqui, têm que colocar umas músicas mais antigas pra agradar. Tipo, não dá pra vir até aqui e não tocar Just, uma música foda com um clipe idem. Aliás, o vídeo de Just é um capítulo à parte, não tem como não achar aquilo absolutamente genial. Por mais que nele o Thom Yorke pareça o Martin Short (joga no google).

Meu único óbice ao show é o local escolhido. Porque show na Praça da Apoteose não é legal. Ou você é esmagado lá na frente ou fica na arquibancada vendo o show pelo telão. De qualquer forma o público sai perdendo. Sem contar que eu acho que Radiohead não é banda pra show em grandes arenas. Pelo menos não no Brasil. Aí vai virar oba-oba e gente que não sabe nada da banda vai transformar o show em mero evento social e isso é irritante. Pode me chamar de esnobe, purista ou o que seja. Eu fiquei revoltada de ver ator Global no show do Bloc Party no Circo Voador. Pronto, falei.

Mas voltando ao setlist, já to aqui ansiosa de ver o esquisitinho do Thom Yorke ao vivo com os seus agudos. Ansiosa pela performance ao vivo de Reckoner, Nude (que foi escrita em 97, o ano da obra-prima), All I Need, Jigsaw, Bodysnatchers, 15 step. Tá, eu sei que nem vai dar pra tocar tudo isso. Mas seria genial.

E pra parar de falar na genialidade da banda, tem coisa mais foda que colocar seu próprio CD pra download num site sem preço estipulado? Teve gente que baixou de graça? Sim. Teve gente que pagou simbólicos 10 dólares? Sim. A questão principal nem tá no quanto se paga pelo álbum, mas reconhecer que a indústria tem que repensar a forma com que relaciona com seu público. Aplausos para o Radiohead que deu uma volta na indústria e resolveu bancar sua aposta.

Lógico que depois lançaram umas versões deluxe caríssimas (até em vinil) mas isso era bastante previsível. Opa, divaguei...for a minute there I lost myself =P

Enfim, em compasso de espera pelo mês de março. A confirmação da vinda do Radiohead foi uma das melhores notícias do ano.

Pra fechar o post com uma espécie de update da confusão em que me meti, to em contagem regressiva (figura abaixo).



Quem tá apavorado com a possibilidade de ganhar de presente de fim de ano uma ficha criminal levanta a mão! o/

Depois conto o desfecho da história.
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26 novembro 2008

It's a song to say goodbye

Estava eu trabalhando normalmente quando toca o telefone:

- C., tá sabendo?
- O que?
- O irmão do Fulano morreu, dá uma ligada pra ele.
- Caralho, que merda! Coitado! Vou ligar.

E lá fui eu. A criatura sem jeito, sem social skills, mas preocupada em confortar o amigo de alguma forma. Alô, Fulano? Oi, é a C., tudo bem?". FAIL. Como assim tudo bem? Como eu pude falar isso? Bem, as palavras saíram sem que eu percebesse.

Me doeu ouvir um cara naturalmente expansivo falando baixinho, transparecendo uma dor absurda. Aquilo acabou comigo. Não me contive, desliguei o telefone e comecei a me organizar pra ir no enterro. Cancelei reunião, adiei compromissos e fui. E saio eu do Centro às pressas. Av. Brasil, a 100km/h pela Linha Amarela até chegar em Jacarepaguá. Logo eu, que nunca na vida tinha ido a um enterro. Que sempre tinha evitado esse tipo de coisa até quando envolvia gente da família.

Vou poupá-los de toda aquela conversa de que a morte coloca as coisas em perspectiva. Encarar a mortalidade faz isso com todo mundo e eu não vou me entregar agora a devaneios filosóficos.

Ao longo da vida a gente guarda alguns barulhos emblemáticos. Catalogamos na cabeça o acervo de sons que compõem nossa memória auditiva. Eu tenho os meus. Alguns são bons, outros são estranhos. Dentre os estranhos acho que o barulho da terra batendo na madeira do caixão vai ficar ali, junto com o perturbador som abafado de metal amassando numa batida de carro.

Enfim, vida que segue.
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21 novembro 2008

Da escrotice intelectualóide

Esse nem é o post que eu queria escrever. Eu queria vir aqui e falar do CD novo do Killers que finalmente vazou ou então falar alguma coisa surreal que aconteceu comigo (e coisas surreais acontecem diariamente no meu mundinho bizarro), mas nem vai dar. Porque eu preciso desabafar e o blog é meu e ta aqui pra isso.

Todo mundo aqui conhece alguém que padece do mesmo mal: nunca foi porra nenhuma e, de um dia pro outro, se acha sumidade. Profundo conhecedor do mundo e da alma humana. De uma hora pra outra a pessoa se porta como se fosse a única dotada de visão em um mundo de cegos. Aí começam a teorizar sobre os defeitos alheios como se tivessem pendurado na parede um diploma de Psicologia ou algo semelhante. E eu nem tenho saco pra isso.

Esses delírios de grandeza intelectualóides são tão enfadonhos! Que coisa chata! Aí ficam tentando teorizar seus defeitos e te categorizar. Na verdade eu que já categorizei. Ali, juntinho de deslumbramento e frustração, na minha cabeça aparece a sua foto. Eu sei, minha opinião não significa muito, mas é o que eu penso.

Se tem uma coisa que eu aprendi tem tempo é lidar com o ego alheio. Reconhecer surtos de grandeza de quem nem é de fato grandioso. E vivem a reclamar. Ficam aí propalando que um é imaturo, outro reprimido, um terceiro é pedante. E a vida segue assim, com o ser onisciente colando predicados nada elogiosos em todo mundo sem se olhar no espelho. Sem ver que o próprio autor das críticas se perdeu em meio às ilações intelectualóides e teorizações sobre tudo e todos.

Sabe gente que transforma graduação em fator de ascendência sobre os outros? Então. É por aí. É até uma das coisas que eu critico na minha profissão. Tem gente que se acha melhor que o resto só porque é advogado. Toda vez que citam a minha profissão ao me apresentar (e quando não estou em ambiente formal, que fique bem claro) faço questão de emendar o clássico "grandes merdas ser adEvogado". Porque minha graduação não tem porra nenhuma a ver com a vida prática e relações interpessoais.

Eu já perdi alguns minutos da minha vida tentando entender onde essa gente se perde. Em que ponto começa a guinada em direção à escrotice. Ainda não consegui identificar essa virada, mas enfim. Ainda acho que 90% das pessoas que são acometidas pela Síndrome da Escrotice Instantânea possuem o mesmo background. Não eram porra nenhuma e não sabiam o que fazer da vida, até que um dia conseguem alguma coisa e aí fodeu, viram brâmanes e o resto do mundo, aos seus olhos, passa a ser formado de párias.

Outro sintoma da Síndrome da Escrotice Instantânea são os delírios literários. Ai, parece que as pessoas só querem se expressar através de uma métrica singular. Tudo é tão intenso e poético e...ai meu cu! Como sofrem! Como o sofrimento deles é lindo! Sempre acompanhado de alguma bebida e um cigarro entre os dedos enquanto ficam deitados languidamente. E o mundo parece os oprimir mas não da mesma forma que oprime a nós, meros mortais. Não, com eles o sofrimento tem contornos de cinema francês.

O engraçado é que é uma relação de comiseração mútua. Os portadores da Síndrome da Escrotice Instantânea se compadecem de nós, meros mortais, ao mesmo passo que nos compadecemos dessas pobres criaturas que teimam em viver a ilusão de que são dotados de uma visão mais clara que a que nós, meros mortais, temos.

Sabe o que é pior? Todo mundo que tem essa síndrome passa por algumas situações. É de causar espanto que pessoas tão esclarecidas caiam nas mesmas armadilhas. Enfim, esse filme eu já vi e o final não é bonito.

Enjoy the ride, kid.
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08 novembro 2008

Atualidades: não postamos.

De novo me recuso a ficar aqui postando sobre atualidades. Na boa, não acho que a minha visão política do mundo e minhas opiniões sobre o Obama sejam relevantes. Pelo menos não relevantes pra merecer um post. Por pensar assim os poupei da minha depressão pós-eleitoral com a derrota do Gabeira e não teorizei sobre a morte da Eloá.

Então, nessa tarde de sábado, de ressaca pelos infinitos chopps na Lapa, me limito a vir aqui escrever sobre um assunto que realmente importa: O novo álbum do Killers: Day and Age. Pode me chamar de superficial.

Embora o disco não tenha sido lançado (e até onde eu sei nem vazou ainda) já temos duas músicas liberadas com áudio de qualidade: Human e Spaceman. Grande expectativa pelo álbum novo. Sério mesmo. Porque Humam e Spaceman são ótimas. Tipo, eu to ouvindo Spaceman no repeat pelos últimos 3 dias. Eu saio de manhã ouvindo isso e esmurrando o volante. Aí escuto no trabalho enquanto faço as minhas coisas (e me seguro pra não batucar na mesa, cantar junto ou me aventurar pelo mundo do air guitar/air drums). Na volta pra casa to eu lá, esmurrando o volante ao som de Spaceman.

Enquanto eu faço essas coisas eu consigo visualizar o Brandon Flowers no palco do Tim Festival do ano passado. Do caralho. Tanto Spaceman quanto Human parecem milimetricamente calculadas pra grudar na cabeça e pra estimular palmas ritimadas em shows.

Outra coisa importante (no meu universo): as músicas têm que ter alguma parte que seja perfeita pra cantar a plenos pulmões. E no carro eu canto a plenos pulmões e foda-se se alguém me achar doida. Antes que pensem besteira, eu só faço isso quando eu to sozinha no carro. Ou quando to com alguém que também faça essa bizarrice. E Killers tem isso de dar vontade de cantar a plenos pulmões.

Enfim, vou deixar vocês com as músicas.

Human:


Spaceman:


p.s: concatenação de idéias, também não trabalhamos.
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03 novembro 2008

Workaholic mode on

Eu sempre fui workaholic. Defeito mesmo. Eu trabalho o dia inteiro e quando chego em casa ainda fico pendurada no meu e-mail corporativo. E isso ainda vai me fazer mal, eu sei disso, mas não to nem aí (por enquanto).

Eu me ferro porque eu sou a única advogada de uma certa área, sendo assim acumulo um nível de trabalho mega. Mas eu sou babaca e orgulhosa e isso só me fode. Porque rola aquele orgulho pessoal de "eu agüento, eu dou conta". E lá vou eu me ferrar inteira mas fazer tudo que me proponho a fazer. E meu salário nem tá à altura das merdas que eu resolvo, mas tudo bem.

Eu também tenho um quê, egocêntrico, admito. Eu gosto de mandar. Perceba, há uma diferença entre mandar e tiranizar. Eu não tiranizo ninguém e sou absolutamente contra quem o faz. Só acho que me é reconfortante saber que as coisas estão sob o meu controle. Me dá uma sensação de segurança. Se tem uma coisa que me deixa completamente surtada é não poder inteferir no rumo dos acontecimentos. ODEIO me sentir fora de controle. Acho que é por isso que eu não suporto ficar bêbada na frente dos outros. Porque perco o controle da situação e passo a depender de outrem. E isso faz um mal filho da puta pro meu orgulho pessoal. Simples assim.

Outra coisa que impulsiona o meu lado workaholic é que eu sou escrotamente competitiva. Tipo, lá nos anos 90 quando eu passava tardes inteiras jogando Zelda, eu secretamente competia com uma amiga. Toda vez que ela chegava num ponto mais avançado que eu no jogo eu corria pra ultrapassar. Ela nunca soube disso, óbvio. Eu sou diplomática. Mas a verdade é que toda vez que ela chegava perto eu sentia uma compulsão quase doentia de deixá-la pra trás e avançar mais que ela. Em outras palavras, eu competia com quem nem estava competindo.

No trabalho é a mesma coisa. Eu fico competindo com os outros e comigo mesma. Pode jogar trabalho nas minhas costas que eu agüento. Se ninguém jamais fez algo aí é que eu vou querer fazer. Eu já falei aqui do meu lado Kevin Lomax e do meu retrospecto impecável em uma certa área (que não convém nomear). Eu sei que um dia eu vou acabar perdendo, acontece, mas fico sempre torcendo pra não ser daquela vez. Já até consegui reverter um panorama adverso com uma argumentação, embora convincente, incrivelmente picareta.

That's my job, that's what I do. A advocacia corporativa tá muito distante dos ideais de justiça que me levaram a escolher a carreira que escolhi. Há quem diga que eu me especializei em ferrar os outros. Eu discordo. Quando eu estou errada admito, vou tentar resolver a questão em um acordo e etc. Mas, cá entre nós, alguém aqui tenta fechar um acordo que não lhe seja benéfico? Então. Eu cedo de um lado e a outra parte tem que ceder também. É assim que funciona.

Lógico que no meio do caminho eu encontro verdadeiros picaretas e aí o meu lado competitivo fica ainda mais forte. Outro dia conseguiram uma liminar pra um assunto e logo depois conseguimos reverter a decisão. Daí que a outra parte me ligou querendo marcar uma reunião pra tentarmos chegar a uma composição. Desliguei o telefone rindo e falando que a outra parte tinha arregado. Veja a que ponto chegamos, euforia por enquadrar a outra parte. Na tal reunião eu era a figura mais blasé do mundo. À mesa, com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas repousadas sobre as minhas pernas, diante de uma pequena chantagem emocional me limitei a rechaçá-la sem alterar o tom de voz uma única vez. HAL 9000 perde.

Eu sei. Parece mau e etc. Talvez seja. Mas poucas coisas são tão legais (work-related) quanto você vencer um embate de argumentos. Se eu já me senti mal com as coisas que fiz? Sim, algumas vezes. Há casos onde eu tenho completa noção de que a função social das coisas foi pro cacete. Fico eu cavando brechas e tangenciando coisas. Já menti descaradamente também. Faz parte do jogo.

Um dia eu prometo desacelerar, mas por enquanto não dá. Ainda há muitas brigas pela frente. E eu adoro uma boa briga.
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