10 outubro 2009

Growing old is getting old

A vida real é bem legal, mas de tempos em tempos é também bastante impiedosa. O tempo no Rio de Janeiro tá uma merda. Frio, chuva, dias cinzentos, tudo que sempre fez mal pro meu estado de espírito. Tudo bem que eu sou uma carioca atípica, que não gosta de praia e de calor senegalês, mas eu não preciso de chuva e neblina em pleno dia.

É engraçado como apesar de toda sofisticação intelectual e toda evolução encaremos o tempo como algo capaz de nos influenciar . Me sinto quase na antigüidade adorando elementais. Enfim, meu lado ranzinza que sempre reage com algum nível de agressividade, mau humor e preconceito.

O fato é que esse tempo assim acaba me deixando mais dentro de casa pela óbvia preguiça que ele encoraja. E como eu já penso demais normalmente, imagina pensar demais sob essas circunstâncias? E eu tenho pensado mais do que o normal ultimamente. Principalmente acerca da mortalidade.

Aí você pode se perguntar por que eu to pensando em mortalidade. E a resposta simples e verdadeira é que eu estou tendo que encarar a mortalidade alheia e não to pronta pra me despedir. E por algum fio de esperança ou estupidez, não sei, acho que isso tudo pode mudar. But in the meantime, encaro a mortalidade alheia e isso põe as coisas em perspectiva suficiente para que eu encare a minha mortalidade. E acho que pelos últimos 3 dias meu lado emocional anda em frangalhos. Admito isso com a mais absoluta vergonha. Só assim pra eu quase chorar só de ouvir tocar Transatlanticism numa propaganda na TV.

Então ontem apareci no trabalho com cores mais vivas, fugindo um pouco dos tons escuros que me caracterizam, numa clara tentativa de mascarar por fora meu momento quase monocromático. E acabei num botequim na rua (esses de cadeira de plástico), bebendo cerveja e pegando chuva fina (por causa do vento). Por um certo tempo foi legal pra rir, distrair. Depois eu comecei a pensar que eu tava num botequim fuleiro molhando de chuva a porra da pashmina francesa e sentada do lado de um cara com quem eu mal falo no trabalho mas que já tinha segurado meu braço e passado a mão na minha cabeça enquanto contava histórias e ria. E me incomoda essa gente que não tem proximidade mas que gosta de falar encostando.

Me enfiei num taxi, cheguei em casa e nos 4 passos sem cobertura que tive que dar pra entrar me encharquei. Banho quente e cama. E sonho bizarro.

De repente estava no apartamento que a minha avó morou. Eu passava quase todos os meus fins de semana lá. Estava na varanda de um quarto. Saí e andei pelo corredor em direção à sala. Nesse trajeto parei na frente do quarto que era o da minha avó quando a vi nitidamente e era algo que não devia estar acontecendo. A roupa era do mesmo tipo que ela usava e que lembro. O cabelo estava diferente, escuro, de um jeito que eu só conheci por foto. As feições eram próximas das que eu conheci, mas também um pouco mais novas. Entrei rápido no quarto e, ao me ver, ela me olhou e disse "eu não devia estar aqui". E então começou a entrar na parede enquanto eu estiquei o braço o suficiente apenas para vê-la dissolver entre os meus dedos.

A merda é que eu consigo quebrar parte do sonho. Interpretar parte dele. E parte do significado me assusta um bocado. Quer dizer, do significado que eu imagino. Interpretação certa de sonhos é pra gente analizada e eu não o sou. Talvez devesse ser.

Ligo a TV é tá passando um dos meus filmes favoritos ever. Um que tem como protagonista uma atriz francesa e acontece em Viena. E esse filme fode a minha vida. Porque me faz pensar mais ainda. Sempre me fez pensar. Os mais próximos a mim e mais atentos podem notar que o cito vez por outra. Uso frases tiradas dele.

Tudo que eu estou fazendo nesse post é jogar um emaranhado de pequenos pontos de partida. Mas esses pontos de partida não chegam a ser completamente desenvolvidos. Não to com cabeça pra isso.

Acho que o que eu preciso agora é abrir uma garrafa de Absolut ou assistir/ler algo completamente estúpido, não elaborado. O que vier primeiro.
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