26 novembro 2008

It's a song to say goodbye

Estava eu trabalhando normalmente quando toca o telefone:

- C., tá sabendo?
- O que?
- O irmão do Fulano morreu, dá uma ligada pra ele.
- Caralho, que merda! Coitado! Vou ligar.

E lá fui eu. A criatura sem jeito, sem social skills, mas preocupada em confortar o amigo de alguma forma. Alô, Fulano? Oi, é a C., tudo bem?". FAIL. Como assim tudo bem? Como eu pude falar isso? Bem, as palavras saíram sem que eu percebesse.

Me doeu ouvir um cara naturalmente expansivo falando baixinho, transparecendo uma dor absurda. Aquilo acabou comigo. Não me contive, desliguei o telefone e comecei a me organizar pra ir no enterro. Cancelei reunião, adiei compromissos e fui. E saio eu do Centro às pressas. Av. Brasil, a 100km/h pela Linha Amarela até chegar em Jacarepaguá. Logo eu, que nunca na vida tinha ido a um enterro. Que sempre tinha evitado esse tipo de coisa até quando envolvia gente da família.

Vou poupá-los de toda aquela conversa de que a morte coloca as coisas em perspectiva. Encarar a mortalidade faz isso com todo mundo e eu não vou me entregar agora a devaneios filosóficos.

Ao longo da vida a gente guarda alguns barulhos emblemáticos. Catalogamos na cabeça o acervo de sons que compõem nossa memória auditiva. Eu tenho os meus. Alguns são bons, outros são estranhos. Dentre os estranhos acho que o barulho da terra batendo na madeira do caixão vai ficar ali, junto com o perturbador som abafado de metal amassando numa batida de carro.

Enfim, vida que segue.
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