21 novembro 2008

Da escrotice intelectualóide

Esse nem é o post que eu queria escrever. Eu queria vir aqui e falar do CD novo do Killers que finalmente vazou ou então falar alguma coisa surreal que aconteceu comigo (e coisas surreais acontecem diariamente no meu mundinho bizarro), mas nem vai dar. Porque eu preciso desabafar e o blog é meu e ta aqui pra isso.

Todo mundo aqui conhece alguém que padece do mesmo mal: nunca foi porra nenhuma e, de um dia pro outro, se acha sumidade. Profundo conhecedor do mundo e da alma humana. De uma hora pra outra a pessoa se porta como se fosse a única dotada de visão em um mundo de cegos. Aí começam a teorizar sobre os defeitos alheios como se tivessem pendurado na parede um diploma de Psicologia ou algo semelhante. E eu nem tenho saco pra isso.

Esses delírios de grandeza intelectualóides são tão enfadonhos! Que coisa chata! Aí ficam tentando teorizar seus defeitos e te categorizar. Na verdade eu que já categorizei. Ali, juntinho de deslumbramento e frustração, na minha cabeça aparece a sua foto. Eu sei, minha opinião não significa muito, mas é o que eu penso.

Se tem uma coisa que eu aprendi tem tempo é lidar com o ego alheio. Reconhecer surtos de grandeza de quem nem é de fato grandioso. E vivem a reclamar. Ficam aí propalando que um é imaturo, outro reprimido, um terceiro é pedante. E a vida segue assim, com o ser onisciente colando predicados nada elogiosos em todo mundo sem se olhar no espelho. Sem ver que o próprio autor das críticas se perdeu em meio às ilações intelectualóides e teorizações sobre tudo e todos.

Sabe gente que transforma graduação em fator de ascendência sobre os outros? Então. É por aí. É até uma das coisas que eu critico na minha profissão. Tem gente que se acha melhor que o resto só porque é advogado. Toda vez que citam a minha profissão ao me apresentar (e quando não estou em ambiente formal, que fique bem claro) faço questão de emendar o clássico "grandes merdas ser adEvogado". Porque minha graduação não tem porra nenhuma a ver com a vida prática e relações interpessoais.

Eu já perdi alguns minutos da minha vida tentando entender onde essa gente se perde. Em que ponto começa a guinada em direção à escrotice. Ainda não consegui identificar essa virada, mas enfim. Ainda acho que 90% das pessoas que são acometidas pela Síndrome da Escrotice Instantânea possuem o mesmo background. Não eram porra nenhuma e não sabiam o que fazer da vida, até que um dia conseguem alguma coisa e aí fodeu, viram brâmanes e o resto do mundo, aos seus olhos, passa a ser formado de párias.

Outro sintoma da Síndrome da Escrotice Instantânea são os delírios literários. Ai, parece que as pessoas só querem se expressar através de uma métrica singular. Tudo é tão intenso e poético e...ai meu cu! Como sofrem! Como o sofrimento deles é lindo! Sempre acompanhado de alguma bebida e um cigarro entre os dedos enquanto ficam deitados languidamente. E o mundo parece os oprimir mas não da mesma forma que oprime a nós, meros mortais. Não, com eles o sofrimento tem contornos de cinema francês.

O engraçado é que é uma relação de comiseração mútua. Os portadores da Síndrome da Escrotice Instantânea se compadecem de nós, meros mortais, ao mesmo passo que nos compadecemos dessas pobres criaturas que teimam em viver a ilusão de que são dotados de uma visão mais clara que a que nós, meros mortais, temos.

Sabe o que é pior? Todo mundo que tem essa síndrome passa por algumas situações. É de causar espanto que pessoas tão esclarecidas caiam nas mesmas armadilhas. Enfim, esse filme eu já vi e o final não é bonito.

Enjoy the ride, kid.
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