03 novembro 2008

Workaholic mode on

Eu sempre fui workaholic. Defeito mesmo. Eu trabalho o dia inteiro e quando chego em casa ainda fico pendurada no meu e-mail corporativo. E isso ainda vai me fazer mal, eu sei disso, mas não to nem aí (por enquanto).

Eu me ferro porque eu sou a única advogada de uma certa área, sendo assim acumulo um nível de trabalho mega. Mas eu sou babaca e orgulhosa e isso só me fode. Porque rola aquele orgulho pessoal de "eu agüento, eu dou conta". E lá vou eu me ferrar inteira mas fazer tudo que me proponho a fazer. E meu salário nem tá à altura das merdas que eu resolvo, mas tudo bem.

Eu também tenho um quê, egocêntrico, admito. Eu gosto de mandar. Perceba, há uma diferença entre mandar e tiranizar. Eu não tiranizo ninguém e sou absolutamente contra quem o faz. Só acho que me é reconfortante saber que as coisas estão sob o meu controle. Me dá uma sensação de segurança. Se tem uma coisa que me deixa completamente surtada é não poder inteferir no rumo dos acontecimentos. ODEIO me sentir fora de controle. Acho que é por isso que eu não suporto ficar bêbada na frente dos outros. Porque perco o controle da situação e passo a depender de outrem. E isso faz um mal filho da puta pro meu orgulho pessoal. Simples assim.

Outra coisa que impulsiona o meu lado workaholic é que eu sou escrotamente competitiva. Tipo, lá nos anos 90 quando eu passava tardes inteiras jogando Zelda, eu secretamente competia com uma amiga. Toda vez que ela chegava num ponto mais avançado que eu no jogo eu corria pra ultrapassar. Ela nunca soube disso, óbvio. Eu sou diplomática. Mas a verdade é que toda vez que ela chegava perto eu sentia uma compulsão quase doentia de deixá-la pra trás e avançar mais que ela. Em outras palavras, eu competia com quem nem estava competindo.

No trabalho é a mesma coisa. Eu fico competindo com os outros e comigo mesma. Pode jogar trabalho nas minhas costas que eu agüento. Se ninguém jamais fez algo aí é que eu vou querer fazer. Eu já falei aqui do meu lado Kevin Lomax e do meu retrospecto impecável em uma certa área (que não convém nomear). Eu sei que um dia eu vou acabar perdendo, acontece, mas fico sempre torcendo pra não ser daquela vez. Já até consegui reverter um panorama adverso com uma argumentação, embora convincente, incrivelmente picareta.

That's my job, that's what I do. A advocacia corporativa tá muito distante dos ideais de justiça que me levaram a escolher a carreira que escolhi. Há quem diga que eu me especializei em ferrar os outros. Eu discordo. Quando eu estou errada admito, vou tentar resolver a questão em um acordo e etc. Mas, cá entre nós, alguém aqui tenta fechar um acordo que não lhe seja benéfico? Então. Eu cedo de um lado e a outra parte tem que ceder também. É assim que funciona.

Lógico que no meio do caminho eu encontro verdadeiros picaretas e aí o meu lado competitivo fica ainda mais forte. Outro dia conseguiram uma liminar pra um assunto e logo depois conseguimos reverter a decisão. Daí que a outra parte me ligou querendo marcar uma reunião pra tentarmos chegar a uma composição. Desliguei o telefone rindo e falando que a outra parte tinha arregado. Veja a que ponto chegamos, euforia por enquadrar a outra parte. Na tal reunião eu era a figura mais blasé do mundo. À mesa, com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas repousadas sobre as minhas pernas, diante de uma pequena chantagem emocional me limitei a rechaçá-la sem alterar o tom de voz uma única vez. HAL 9000 perde.

Eu sei. Parece mau e etc. Talvez seja. Mas poucas coisas são tão legais (work-related) quanto você vencer um embate de argumentos. Se eu já me senti mal com as coisas que fiz? Sim, algumas vezes. Há casos onde eu tenho completa noção de que a função social das coisas foi pro cacete. Fico eu cavando brechas e tangenciando coisas. Já menti descaradamente também. Faz parte do jogo.

Um dia eu prometo desacelerar, mas por enquanto não dá. Ainda há muitas brigas pela frente. E eu adoro uma boa briga.
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