05 setembro 2009

If you keep losing sleep

É sábado e depois de trabalhar como uma corna a semana inteira (as usual) eu perco o sono às 7 da manhã. Tenho um sonho bizarro em que estou assistindo um show do Ben Gibbard num teatro minúsculo e esse show é interrompido às 5 da manhã pra continuar em outro lugar e outro dia e, pra isso, temos que assinar uma lista pra garantir acesso à outra apresentação. E a caneta falha comigo mas insisto e consigo assinar.

Acordo preocupada com trabalho. Preocupada com uma conversa com o chefe ontem. Preocupada com as reestruturações das Diretorias Executivas da empresa. A terra tá tremendo e embora as mudanças, a priori, não atinjam significativamente a minha área, o futuro, alguns cenários possíveis, me assustam.

Pensando seriamente em ter uma conversa franca e direta com o chefe na terça. Daquelas tipo Jerry Maguire, que te fodem de vez ou te guiam por caminhos potencialmente problemáticos, mas melhores do que os que você habitualmente trilha. Ao mesmo tempo, será que vale a pena? Na sexta que vem to saindo de férias, vou ficar incomunicável por 20 dias. Será que vale a pena dar esse tempo todo pro cara deixar o que eu disser sink in? Não sei.

Eu sempre fico meio pirada quando o chefe decide conversar francamente comigo. Porque, como eu já contei aqui no passado, eu fui contratada pra ficar na vaga de uma grande amiga minha. Tipo, das pessoas mais queridas do meu universo. E não é segredo pra ninguém que ela estava sendo preparada pelo chefe para substituí-lo. E aí ele vem com aquela conversa de que ele não tem sucessor atualmente e precisa de um. Que tem um braço direito na área x e precisa de um braço direito na área y (que é onde eu atuo). Que ele precisa assumir novas atribuições mas precisa de mim pra isso. Eu acredito em parte mas enxergo uma boa dose de demagogia no discurso. E aí pela primeira vez na vida ele resolve elogiar minha formação com um pouco mais de ênfase.

Que eu sou filha de uma das melhores faculdades de Direito desse país eu sei. E é motivo de constante (e absurdo) orgulho e culpa. Sim, culpa. Porque não acho que faço justiça a ela e me cobro demais. Eu tenho um dever de excelência por vir de onde vim. É piração minha, mas é algo importante na minha cabeça. Eu me imponho o dever de sempre representar bem minha faculdade. Principalmente quando discuto processo com ex-aluno de Harvard ou figurões do Processo Civil. E isso acontece com freqüência suficiente pra ser assustadora.

Minhas férias serão cobertas por um puxa-saco do chefe que é famoso por buscar defeitos no trabalho alheio. Daí um pouco da minha tensão. E embora eu tenha convicção de que desempenho meu papel de maneira competente, sabe-se lá que tipo de interpretação podem dar às coisas na sua ausência pra te foder.

E então tem reunião geral com todos os advogados e um dos meus projetos é apresentado como case de sucesso e pedem que eu compartilhe como cheguei a resultados tão expressivos em tão pouco tempo. E eu falo a mais absoluta verdade: trabalho. Muito trabalho, muito stress, muita cobrança. A paranóia do controle total. Foi daí que surgiu o resultado. Eu to me matando pra fazer uma coisa funcionar e ela tá funcionando. E aí vem o chefe elogiar publicamente. Pra logo em seguida dar aquela comida de rabo coletiva.

Vem aquele discurso de assumir novas responsabilidades, maiores, que precisamos cooperar. E elogios rasgados ao puxa-saco que, na boa, não faz nada além de rodar pra lá e pra cá fazendo trabalhinho de relações públicas. Saio puta da minha vida. Volto pra casa dirigindo no modo automático, sem prestar atenção. Quase bato na traseira do carro da frente umas 3 vezes.

Agora eu to aqui pensando em formas de step up the game. Raise the bar. Eu vou virar o capeta. Controle total. Aliás outro dia tava no telefone com uma amiga e no meio da conversa tive que dar umas ordens e ela ouviu. E isso não é legal, fiquei bastante chateada depois. Ninguém precisa me "ver" irritada dando ordens. Ninguém fora do meu mundo profissional precisa me ver mandando alguém fazer uma coisa e fazer imediatamente. It's not a pretty sight. Desculpa.

O fim de semana mal começou e to eu trabalhando. Pesquisando jurisprudência, estudando, tentando entender o que mais diabos eu posso fazer. E a partir de terça e quando eu voltar de férias, vai rolar um trabalho fodido de relações públicas da minha parte. Porque se os resultados do lado jurídico por si só não dão conta, vamos pra politicagem que o mundo corporativo tanto ama.

To ouvindo compulsivamente Use Somebody do Kings of Leon. Não deve ser bom sinal.
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