08 novembro 2009

I always cry at endings

Eu podia falar do festival Planeta Terra que foi bem legal, com shows interessantes e etc. Podia até colocar aqui videozinho dos eventos. Mas tudo isso meio que perdeu o sentido pra mim. O que fazer quando você viaja pra ver um show e no dia seguinte acorda incrivelmente cedo e corre pro aeroporto pra entrar no primeiro vôo de volta pra conseguir chegar a tempo de um enterro?

A notícia ruim eu recebi por celular ainda no festival. 4 palavrinhas ditas entre choro e soluços que me deixaram em estado de choque, o que me impediu de esboçar qualquer reação. Entrei em negação, admito. Não, isso não tá acontecendo. E assisti meus shows como se o mundo fosse o mesmo. Mas não era. Nem eu era. Podia ter me divertido infinitamente mais. Ligações pra lá e pra cá. Era preciso comunicar o ocorrido. E eu ali, sem ação. A ficha ainda não tinha caído. Fim de show, de volta ao hotel.

Vou tomar banho e no chuveiro fico pensando em tudo, ainda sem entender muito bem as coisas. Ainda meio fora do ar. Quando vou deitar a primeira porrada. Algumas poucas lágrimas. O redentor cansaço que me faz dormir.

No dia seguinte, café da manhã correndo entre alegres alemães e um casal francês. Todos tão relaxados e eu tensa, correndo, querendo voltar pra casa. Enquanto bebo meu suco reparo que o copo que uso é igual ao da casa da minha tia. Aperto no peito. Volto pro quarto, termino de arrumar minhas coisas, vejo se não esqueci nada e vou. As coisas não funcionam como eu gostaria. Sou obrigada a esperar quase 2:30h pelo vôo. Ainda meio aérea, sem entender o que diabos tinha acontecido.

Quando ponho os pés dentro de casa é que a bomba cai. Choro compulsivo que tento reprimir pois ainda tenho que correr, tenho que chegar no cemitério, enfio na cabeça que tenho que ser forte pelos outros. Largo a mochila em casa e corro. Quando chego no local ainda estou pensando racionalmente, lidando com tarefas objetivas como ir de um lugar a outro, seguir instruções para chegar onde devo estar. Quando entro e vejo o caixão, aí sim meu mundo desaba de vez.

É foda perceber que cheguei numa idade onde começamos a nos despedir das pessoas. Me assusta e me fere sobremaneira perceber que acabo de enterrar alguém que está só uma geração acima de mim.

Não há chão. Não há lógica. Não há racionalismo capaz de me salvar desse tipo de dor. Não há nada nesse mundo que me faça esquecer a sensação horrível de ver alguém que você ama dentro de um caixão e depois sendo sepultado.

E a culpa. Ela, que é uma das minhas mais antigas companheiras. Sempre acho que podia ter feito mais, ter estado mais presente. Penso em mil coisas que poderia ter feito de forma diferente. Em um átimo de segundo chego a pensar que eu poderia ter evitado tudo. Nonsense. O que poderia eu fazer contra um câncer avassalador que em 2 meses levou embora quem não devia?

Enfim, essa é a conclusão lógica e racional do post anterior. Batalha perdida. Menos um. A mortalidade alheia chegou e lidar com isso é devastador.
|