31 agosto 2007

Reconstruindo uma identidade pessoal

É engraçado como as coisas são. Primeiro a gente é identificado só como filhos dos nossos pais, somos uma extensão deles. Aí passa um tempo e vamos pro colégio, onde passamos a adotar uma nova identidade, a de aluno fulano do colégio X que anda com seus amiguinhos beltrano e siclano e faz altas picaretagens pra fugir do dever de casa (especialmente o de matemática). Passa mais um tempo e você vira o aluno fulano da faculdade Y, que anda com aquela gente que ouve umas bandas estranhas e abusa de anglicismos. Seja como for, sua identificação principal é simples: você é estudante. É isso que você responde quando perguntam o que você faz.

Daí que eu me dei conta agora, aos 45 do segundo tempo, o quanto é estranho me ver destituída desses vínculos, desses títulos. Eu não sou mais estudante. E o mais ridículo de tudo foi perceber isso em uma loja, enquanto eu preenchia meus dados num cartão. Toda sorte de perguntas ali. Que revista eu leio mais (nenhuma das opções), que jornal eu leio, etc. Dentre essas perguntas vinha lá um campo "profissão". E então me vi escrevendo advogada. E isso foi bastante estranho. Algo do tipo: então é isso? Você estuda, estuda, estuda e vira resposta num formulário de loja? Enfim...

Eu não me contenho, eu sou ridícula. Então o que fiz eu? Fui até a faculdade. Andei por aqueles corredores mais uma vez. Dessa vez já na condição de ex-aluna. Lembrei de um discurso numa colação de grau. Diziam que aqueles corredores eram o cordão umbilical que nos unia à faculdade. E a sensação é bem essa, de estar permanentemente ligada àquele lugar. Quando estou indo embora, caminhando para a saída do campus, passo por um grupo de calouros de rosto pintado. Não consigo disfarçar um sorrisinho. Aquela ali já fui eu um dia. Parece que isso aconteceu uma vida inteira atrás.
|

15 agosto 2007

Sintoma de insanidade

Já deixamos claro que eu ando à flor da pele, irascível, descompensada, estressada, chamem como quiserem, certo? Pois bem. A prova cabal de que eu não sou normal veio por volta de 10:30 da última terça-feira.

Levanto, pego minha matéria, alguns exercícios e vou me sentar pra estudar. Do nada me pergunto onde está minha lapiseira. Não a vejo em lugar algum. Estranho, eu a deixei na mesa ontem, do lado do cartão de crédito. O cartão tá aqui, mas cadê a lapiseira? E então sou tomada por uma onda de terror. A porcaria da lapiseira já viu melhores dias, mas eu adoro aquela coisa. Canetas vêm e vão, mas a lapiseira permanece.

Faço rápidas contas na minha cabeça e descubro que eu comprei a porcaria da lapiseira em algum lugar nos anos 90. Acho até que antes de 95. Isso significa que aquela Pentel preta, grafite 0.5 me acompanhou por algumas provas do primeiro grau, todas do segundo grau, pelo vestibular e ainda resistiu bravamente por todos os anos da graduação na faculdade. E isso é completamente insano. Sentir apego sentimental por uma mera lapiseira. Mas eu vou te contar, encarar a perspectiva de fazer mais alguma prova sem ela me arrasou por uns instantes. Eu não ando a fim de exercícios dissociativos agora.

Começo então a busca pela lapiseira perdida. Indiana Jones perde no quesito esforço arqueológico. Olho debaixo da cama, do sofá da sala, procuro em cômodos que não fazem o menor sentido enquanto murmuro coisas do tipo "se alguém pegou sem eu saber e tirou do lugar eu mato". Dizem que taurinos ficam muito irritados, putos da vida mesmo, quando suas coisas são tiradas do lugar. Eu não entendo nada de signos mas sou obrigada a concordar com essa afirmação. Enfim, procuro e não acho. Resolvo olhar debaixo da cama de novo, olho dentro de um sapato (vai que caiu o chão, quicou e foi parar dentro de um sapato? Eu já falei que física não é o meu forte? Eu sou de Humanas, ora). Procuro dentro de uma caixa de sapato (como se a lapiseira tivesse se jogado pra dentro de uma caixa fechada). Nada. Volto para a mesa, olho pro chão, não vejo em lugar algum. Até que percebo que ela caiu pra cadeira.




Pronto, o mundo faz sentido novamente.

p.s: eu guardei a caneta que eu usei quando fiz vestibular. Nunca mais usei, mas de vez em quando olho pra ela e penso que foi com ela que eu cheguei onde eu queria. Talvez seja uma espécie de relíquia de guerra.
|

13 agosto 2007

Eu ando irascível. É o stress, repito mentalmente enquanto me recrimino pelo mau humor reinante. Ando impaciente. O fato é que eu estou na reta final de um monte de coisas. Vários deadlines e isso não facilita nada. É normal acordar às 3 da manhã, do nada, pensando em problemas a resolver? Eu imaginava que depois de apagar eu desligasse pra tudo. O problema residiria em pegar no sono, certo? Errado. Eu até durmo, mas no meio da noite meu cérebro me prega peças e me faz acordar. Alguém sabe o que é sonhar com sapos pela casa? Eu não sei, só sei que é nojento aqueles bichos asqueirosos coaxando. Sapos imensos.

I'm in so much trouble, I can't hide in the covers. And I don't think I wanna think about it (essa letra encaixou tão bem aqui). Não sei que tipo de fase é essa que eu to passando, mas eu nunca me senti tão pressionada. Sei lá, eu me sinto como a Holanda ali pertinho da Alemanha nazista e completamente na merda por causa disso. Aliado a tudo isso ainda tem a pressão pessoal, de corresponder a todas as expectativas do universo.

Outro dia, surge uma conversa aqui em casa. Minha irmã pergunta pra minha mãe quem ela acha a pessoa mais inteligente da casa. Dona mamãe dá uma respostinha escorregadia, dizendo que nós duas somos inteligentes mas voltadas para áreas diferentes. Até aí tudo bem. O problema foi o complemento, dizendo que eu canalizo tudo pra músicas e filmes. Resposta sarcástica imediata: "eu prefiro o termo cultura pop".

Eu não sei se isso é bonitinho ou ofensivo. Sei lá, ela podia ter elogiado meus dotes jurídicos, minha cultura geral. Mas não. Eu gosto de música e de filmes. Uma simplificação sem fim (embora realmente goste dos dois).

Quer saber, eu devia era estar estudando agora.
|

02 agosto 2007

Mais uma semana

Pois é. As 48 horas metamorfosearam-se em 168 horas. Mais 7 dias. Num primeiro instante só fui capaz de sentir uma espécie de alívio. Como se o longo prazo atual fosse uma espécie de livramento. Sim, 7 dias é coisa demais, muito longe. Parecia até que o problema tinha acabado, que tinha sido varrido miraculosamente pra debaixo do tapete. Mas essa sensação durou uns 5 minutos.

Já aceito mais calmamente que preciso me manter sob controle daqui a 7 dias. Ainda não consigo concatenar idéias e me sinto absolutamente despreparada. Mas há em mim algo de esperançoso pela displicência alheia. Tem gente pior do que eu e isso é reconfortante de um jeito meio pirado.

Então é isso. Mais 7 dias. Vida que segue (com o nervosismo habitual). E no meio do caos todo, quem diria que um bilhete deixado na minha mesa no trabalho faria toda a diferença do mundo...
|