29 fevereiro 2008

“People have the right to fly”

Uma coisa que eu acho que é bem clara, dado o histórico desse blog, é que eu sempre busco a estabilidade, alguma forma de segurança, de permanência. Tudo pode ser caótico, desde que eu tenha alguns pontos-chave estáveis. Desde que eu saiba que determinadas coisas não vão mudar.

Lidar com as instabilidades da vida é um desafio. Sempre foi. Porque racionalmente eu compreendo tudo, mas emocionalmente reluto em aceitar algumas coisas. E fico aqui nessa guerrinha, a war of head versus heart. Porque às vezes é muito difícil manter a persona impassível. Esse é um relato de 3 semanas. 3 sextas-feiras emblemáticas.

Na primeira foi particularmente difícil admitir que eu não sou insensível como tento convencer os outros. Falar o que penso com todas as palavras. “Pra mim vai ser muito, muito estranho. Eu sei que eu fico vendendo essa imagem de insensível, mas eu sou uma babaca sentimentalóide. Vai ser muito estranho porque você sempre esteve aqui”. E agora a iminente despedida, que nem é tão despedida assim, me deixa chateada. Eu sei que não vamos deixar de ser amigas, mas enfim...

Na segunda sexta-feira veio o anúncio da saída e a revelação do segredo guardado por um mês inteiro de que eu voltava, nas palavras do chefe, “com a difícil missão de substituir” minha amiga. Imediatamente me dizem “então você vai substituir ela?” e me apresso a responder “nunca” com os olhos marejados. Me recrimino por isso, claro. Toda a vida sem chorar em público e de repente sou pega com os olhos marejados. Bem, pelo menos não chorei. Foi o que repeti mentalmente no carro enquanto voltava pra casa.

Hoje, na terceira sexta-feira, veio a temida despedida. Foi um dia que começou bem e com o passar das horas tomava ares melancólicos. A despedida que todos evitávamos. Não havia como fugir. No fim da tarde mais uma vez me vi de olhos marejados. Mais uma vez o nó na garganta. Abraços apertados, desejos mútuos de boa sorte e a certeza que eu realmente vou estranhar horrores a ausência. Temos o mesmo sobrenome e quando falávamos nossos nomes emendávamos com um “não somos parentes”. Não somos, mas por afeto é como se fôssemos.

As pessoas têm o direito de alçar novos vôos e escolher novos caminhos. E eu vou sempre torcer pra que tudo corra bem, pra que os planos sejam realizados. Mas o início vai ser estranho, como não poderia deixar de ser. Mais uma estação vazia. Mais responsabilidade sobre os meus ombros. Menos uma companhia pra conversas à tarde sobre as confusões de trabalho.

Eu sei, não é um adeus. Mas, bem, vou sentir falta.
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25 fevereiro 2008

Da série vídeos que devem ser vistos



Porque essa é a menina de 3 anos mais fofa do mundo. Isso dito por alguém (eu) que planeja comprar uma mochila do Yoda e um sabre de luz.
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21 fevereiro 2008

O inevitável cansaço

Meu dia começou às 4 da manhã. Sem sacanagem. às 5:40 eu tava no aeroporto e tinha acabado de fazer o check in. Programação do dia: ir a SP e voltar no fim da tarde. Tudo muito simples. Como se algo fosse simples na minha vida. Bem, o vôo que devia ser às 18h atrasou. Depois caiu uma chuva horrível. Enfim, cheguei em casa 10 da noite. Morta de cansaço. Porra Murphy, dá pra largar do meu pé?

O desfile de situações ridículas começou cedo, logo às 6 da manhã. Estou eu sonolenta, andando até o meu portão de embarque quando vejo o professor que me orientou na monografia. Ele me reconhece, pára, me cumprimenta e pergunta: "Oi, o que você está fazendo por aqui? Passeando?". Respondi muito educadinha que tinha uma audiência em SP mas depois fiquei pensando, quem diabos passeia pelo aeroporto às 6 da manhã fantasiada de barbie advogada? Enfim.

Embarco, faço notas mentais sobre a suposta homossexualidade de um comissário de bordo, vou pra tal audiência e no fim da manhã chego na filial paulistana da empresa e sou apresentada como a advogada que ouve rock. Tipo, pra quê? As pessoas têm que me procurar pra sanar dúvidas jurídicas, não pra que eu indique bandas. A vontade era falar "sério que você quer me apresentar assim? C - A advogada rockeira (eu juro que foi esse o termo usado. Rockeira!)?

Fim de tarde, chamam um taxi pra me levar pro aeroporto. O nome da central? Bat Taxi. Vontade imediata de rir. Lembrei do endereço de e-mail de uma amiga e deu mais vontade ainda de rir. Aí pensei no filme do Batman (quer um charuto, meu filho? É havano!) e tive certeza que tenho problemas mentais sérios. O motorista? Über bicha e super engraçado. Falando que tinha ido pro Rio e tinha ficado hospedado na casa de um amigo no Méier (a.k.a Méia). Praticamente um caléga.

Aeroporto, hora de ver por alguns minutos uma das criaturas mais infames que eu conheço. Conversa vai, conversa vem, dou mais uma amostra do meu retardamento mental ao lembrar de uma piada infame. Aquela coisa de dizer "cookie é bom ninguém dá". Acontece que no vôo de ida tinha o café da manhã, e nele tinha um cookie. Daí que eu resolvi falar "cookie é bom a Tam dá". Eu falei que eu acordei às 4 da manhã? Pois é.

Da área de embarque em diante foi o inferno. Quando já contabilizávamos uma hora de atraso São Pedro resolve dar aquela sacaneada na galera e manda uma chuva absurda. Resultado: aeroporto fechado. Desespero total. O tempo passa e nada de embarque, nada de voltar pra casa. E eu ali, sem mala (pra quê se eu ia voltar no mesmo dia?), já pensando na possibilidade de ser obrigada a passar a noite em SP. Ainda bem que isso não foi necessário.

Bem, nas sábias palavras do capanga do Coringa no filme do Batman: "chefe, eu tô cansado pra caralho...". E é exatamente por isso que agora eu não vou dormir. Vou apagar. Esse negócio de ser um membro produtivo da sociedade dá muito trabalho.
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15 fevereiro 2008

Full speed

Uma semana. 5 dias e 8 reuniões. Eu já não existo mais, eu sou a imagem do cansaço. Claro que eu me divirto também. Afinal, o que não falta nesse mundo é motivo pra rir. Tem como não rir ao ver alguém dormindo no meio de uma reunião em determinado órgão público? Pois é.

E agora nesse surto de "virei gente grande" tenho ido pro trabalho de carro. Eu, que há 2 semanas tinha pavor de dirigir. Veja você que eu já até nego passagem a caminhões e jogo meu carro em cima deles pra bloquear. Ah, cansei de ser legal, agora eu sou que nem o Pateta naquele desenho que ele vira um motorista raivoso. Hoje por exemplo me diverti ao não dar passagem pra um caminhão e ainda olhar pro cara como quem diz "não tá me vendo não?". Dei aquela acelerada básica pra fechar o caminho e ouvi um raivoso "obrigado pela passagem". Fim de tarde, engarrafamento enorme, só me limitei a mandar um joinha pra ele. Adoro ironia.

Ainda na série Pateta motorista (alguém lembra do nome do personagem?), peguei a mania de maldizer lerdos com placas de fora do Rio. Se for da baixada tanto pior. Porque eu fico pensando que a criatura sai da baixada pra virar exu tranca rua em vias principais do Rio. Enfim, deixa pra lá.

Como estagiária eu ia de tênis verde e amarelo pro trabalho na casual friday, será que ouso fazer o mesmo como advogada? Confesso que a idéia de subverter a seriedade da instituição muito me atrai. Uma coisa eu garanto, ainda vou dar um jeito de encaixar um all star numa sexta-feira qualquer. Por um jurídico mais alternativo. =P

Ah, qual a graça de trabalhar numa área séria e formal e não tentar subverter isso?
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11 fevereiro 2008

Back to the 101

Recomeço. Foi a palavra dessa segunda. Acordo cedo, entro na carro e saio de casa apreensiva. Mãos no volante, olhar fixo no trajeto de volta àquele ambiente que me era tão familiar alguns meses atrás. Sem saber direito como seria o dia, o clima do lugar.

Chego e caminho pelo corredor no mesmo passo apressado de sempre, o salto fazendo barulho a cada passada, aquele som tão característico do local. A postura estóica de sempre. Me dirijo à minha mesa como se nunca tivesse me afastado. Sento, leio relatórios e de repente, um a um, todos aqueles rostos conhecidos vem me cumprimentar. Formalidades, discursos, elogios à minha suposta competência, o de sempre. O que conta são os sorrisos, os abraços e a cara de surpresa (boa) ao me verem de novo por aqueles corredores.

Final do dia, elevador:

- Po, essa semana quase perdi 4.3 gigas de mp3, imagina o trabalho que ia dar baixar isso tudo de novo?
- Deus me livre...
- Ainda bem que não perdi, onde eu ia achar os dois EPs do Champarticles? Você conhece alguém que conheça Champarticles? Pois é, nem eu...
(risos)
- Eu tava sentindo falta de ouvir essas coisas...

Agora não tem mais volta mesmo. Adeus vida adolescente.

Ainda no tema erros e sentir-se mal com eles, lá vem The Moog cantar pra mim em Anyone: Is there anyone who can blame me? Anyone who can save me from yesterday? And from all the mistakes that I always make.
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06 fevereiro 2008

Autocrítica exagerada

"Para onde meu coração fugiria, em busca de refúgio do meu coração? Para que lado eu voaria, onde não me seguiria? Em que lugar não seria presa de mim mesmo?". Subitamente me vejo às voltas com esse trecho d'As Confissões de Santo Agostinho. Não que esse seja um post religioso, mas há nesse trecho algo que me é bastante familiar. Essa sensação de ser incapaz de fugir de mim mesma.

Eu preciso dizer uma coisa, eu ando completamente apavorada há duas semanas. Completamente apavorada. Pra uma pessoa que gosta de vender essa imagem de inabalável, que não gosta de admitir vulnerabilidades, dá pra sentir o nível do pavor né? Eu tentei dormir no domingo e não consegui. Fiquei andando pela casa e rolando na cama até as 7 da manhã de segunda, quando sucumbi ao sono e acordei no máximo 4 horas depois. O pavor tem a ver com corresponder a expectativas.

Engraçado que nunca na minha vida fui pressionada seja pela família ou por amigos a ser perfeita. Aliás, estou muito, muito longe da perfeição. Há em mim tantas arestas a aparar que chego a pensar que em nenhum momento houve lapidação, que ainda estou em estado bruto. Mas me cobro perfeição. Me cobro demais, exijo demais. Vivo com esse fantasma que me sussurra aos ouvidos que não posso cometer erros. O problema disso? Qualquer erro visto por qualquer pessoa se transforma em tragédia pessoal.

Acho que todo mundo quer impressionar os outros. No meu caso isso nem se aplica. Nem quero impressionar ninguém, só não quero cometer erros, não quero me sentir vulnerável. Porque pra mim erros são vulnerabilizantes. Tem gente com medo seletivo de errar. Se não errar na frente de pessoas específicas tudo bem. Meu caso é diferente, eu não posso errar na frente de ninguém. Nem do seu Manoel da padaria, nem daquele desconhecido atravessando a rua alguns metros à sua frente.

Eu sei, isso é completamente insano. O que se há de fazer se há em mim essa necessidade de não errar? Eis então que me dizem que somos doutrinados a não errar, digo, profissionalmente. Daí há uma transferência natural do conceito à esfera pessoal. Nunca tinha pensado nisso, mas fez tanto sentido. Pelo menos se adequa à minha personalidade, sempre tão afeita a instituições. Me cobro um nível de performance adequado às instituições das quais faço/fiz parte. Família também é uma instituição. Ou seja, sou uma certinha chata. Que anda cometendo erros bobos, infantis. Dando show de desatenção.

Eu sei a raiz psicológica de cada merda que eu faço. Saber isso não é conforto algum, muito pelo contrário. Antes pudesse fugir das armadilhas que armo para mim mesma, as pequenas auto-sabotagens diárias, como se quisesse cumprir as profecias de fracasso que faço para mim mesma. Profecias essas infundadas, absurdas. Saber não é reconfortante se você cai nas suas próprias ciladas.

Engraçado que onde quer que eu olhe, o que vejo é imperfeição. São as limitações de tudo e de todos, eu devia aceitar melhor o conceito. Eu devia aceitar que nada é perfeito e nem mesmo o será em algum tempo. Não existe perfeição. Isso é uma mentira que alguém vendeu pra gente e agora uns (como eu) usam pra se martirizar.

If you try the best you can, the best you can is good enough. Mantra pessoal das últimas semanas. Difícil é me convencer a acreditar nisso, Mr. Yorke.
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03 fevereiro 2008

Ouvindo infâmias até no domingo

Dona mamãe me sacaneia falando que eu sou uma menina criada no ovomaltine (sim, dona mamãe usa a frase do Away).

- É OvomaltinO, tem que falar errado.
- Tá bom, criada no ovomaltino, no leite moça...
- (murmurando) Leite com pera, ovomaltino na geladeira...
- Não fode, C., ela tá se esforçando...hahahaha (minha irmã)

Analisando meu círculo social com ar blasé

- X é sapa?
- Não.
- Mas esse apelido é meio coisa de sapa.
- ?!?
- E a Y é?
- Não.
- Não é?!?
- Não! Agora você cismou que eu só tenho amiga sapa.
- Ah, mas você tem amigas sapas, tomei parte pelo todo. É a metonímia total nas suas amizades.

Viu, nem é minha culpa eu ser infame. É genético.

Pra fechar, musiquinhas legais que eu ando ouvindo (dá pra ouvir pelo widget, you know the drill):

The Dø - Unissassi Laulelet (banda francesa com vocalista finlandesa)
The Depreciation Guild - Butterfly Kisses
British Sea Power - Waving Flags
Foals - Balloons
Sons and Daughters - Killer (método picareta: música do Seal? Caído! Versão do Sons and Daughters? Genial!)

Bonus track galhofa:

John Kappas - Gimme More (sim, cover da Britney versão piano e voz. Sabe-se lá o motivo, faz parte do CD demo do cara).
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