06 fevereiro 2008

Autocrítica exagerada

"Para onde meu coração fugiria, em busca de refúgio do meu coração? Para que lado eu voaria, onde não me seguiria? Em que lugar não seria presa de mim mesmo?". Subitamente me vejo às voltas com esse trecho d'As Confissões de Santo Agostinho. Não que esse seja um post religioso, mas há nesse trecho algo que me é bastante familiar. Essa sensação de ser incapaz de fugir de mim mesma.

Eu preciso dizer uma coisa, eu ando completamente apavorada há duas semanas. Completamente apavorada. Pra uma pessoa que gosta de vender essa imagem de inabalável, que não gosta de admitir vulnerabilidades, dá pra sentir o nível do pavor né? Eu tentei dormir no domingo e não consegui. Fiquei andando pela casa e rolando na cama até as 7 da manhã de segunda, quando sucumbi ao sono e acordei no máximo 4 horas depois. O pavor tem a ver com corresponder a expectativas.

Engraçado que nunca na minha vida fui pressionada seja pela família ou por amigos a ser perfeita. Aliás, estou muito, muito longe da perfeição. Há em mim tantas arestas a aparar que chego a pensar que em nenhum momento houve lapidação, que ainda estou em estado bruto. Mas me cobro perfeição. Me cobro demais, exijo demais. Vivo com esse fantasma que me sussurra aos ouvidos que não posso cometer erros. O problema disso? Qualquer erro visto por qualquer pessoa se transforma em tragédia pessoal.

Acho que todo mundo quer impressionar os outros. No meu caso isso nem se aplica. Nem quero impressionar ninguém, só não quero cometer erros, não quero me sentir vulnerável. Porque pra mim erros são vulnerabilizantes. Tem gente com medo seletivo de errar. Se não errar na frente de pessoas específicas tudo bem. Meu caso é diferente, eu não posso errar na frente de ninguém. Nem do seu Manoel da padaria, nem daquele desconhecido atravessando a rua alguns metros à sua frente.

Eu sei, isso é completamente insano. O que se há de fazer se há em mim essa necessidade de não errar? Eis então que me dizem que somos doutrinados a não errar, digo, profissionalmente. Daí há uma transferência natural do conceito à esfera pessoal. Nunca tinha pensado nisso, mas fez tanto sentido. Pelo menos se adequa à minha personalidade, sempre tão afeita a instituições. Me cobro um nível de performance adequado às instituições das quais faço/fiz parte. Família também é uma instituição. Ou seja, sou uma certinha chata. Que anda cometendo erros bobos, infantis. Dando show de desatenção.

Eu sei a raiz psicológica de cada merda que eu faço. Saber isso não é conforto algum, muito pelo contrário. Antes pudesse fugir das armadilhas que armo para mim mesma, as pequenas auto-sabotagens diárias, como se quisesse cumprir as profecias de fracasso que faço para mim mesma. Profecias essas infundadas, absurdas. Saber não é reconfortante se você cai nas suas próprias ciladas.

Engraçado que onde quer que eu olhe, o que vejo é imperfeição. São as limitações de tudo e de todos, eu devia aceitar melhor o conceito. Eu devia aceitar que nada é perfeito e nem mesmo o será em algum tempo. Não existe perfeição. Isso é uma mentira que alguém vendeu pra gente e agora uns (como eu) usam pra se martirizar.

If you try the best you can, the best you can is good enough. Mantra pessoal das últimas semanas. Difícil é me convencer a acreditar nisso, Mr. Yorke.
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