Reconstruindo uma identidade pessoal
É engraçado como as coisas são. Primeiro a gente é identificado só como filhos dos nossos pais, somos uma extensão deles. Aí passa um tempo e vamos pro colégio, onde passamos a adotar uma nova identidade, a de aluno fulano do colégio X que anda com seus amiguinhos beltrano e siclano e faz altas picaretagens pra fugir do dever de casa (especialmente o de matemática). Passa mais um tempo e você vira o aluno fulano da faculdade Y, que anda com aquela gente que ouve umas bandas estranhas e abusa de anglicismos. Seja como for, sua identificação principal é simples: você é estudante. É isso que você responde quando perguntam o que você faz.
Daí que eu me dei conta agora, aos 45 do segundo tempo, o quanto é estranho me ver destituída desses vínculos, desses títulos. Eu não sou mais estudante. E o mais ridículo de tudo foi perceber isso em uma loja, enquanto eu preenchia meus dados num cartão. Toda sorte de perguntas ali. Que revista eu leio mais (nenhuma das opções), que jornal eu leio, etc. Dentre essas perguntas vinha lá um campo "profissão". E então me vi escrevendo advogada. E isso foi bastante estranho. Algo do tipo: então é isso? Você estuda, estuda, estuda e vira resposta num formulário de loja? Enfim...
Eu não me contenho, eu sou ridícula. Então o que fiz eu? Fui até a faculdade. Andei por aqueles corredores mais uma vez. Dessa vez já na condição de ex-aluna. Lembrei de um discurso numa colação de grau. Diziam que aqueles corredores eram o cordão umbilical que nos unia à faculdade. E a sensação é bem essa, de estar permanentemente ligada àquele lugar. Quando estou indo embora, caminhando para a saída do campus, passo por um grupo de calouros de rosto pintado. Não consigo disfarçar um sorrisinho. Aquela ali já fui eu um dia. Parece que isso aconteceu uma vida inteira atrás.
É engraçado como as coisas são. Primeiro a gente é identificado só como filhos dos nossos pais, somos uma extensão deles. Aí passa um tempo e vamos pro colégio, onde passamos a adotar uma nova identidade, a de aluno fulano do colégio X que anda com seus amiguinhos beltrano e siclano e faz altas picaretagens pra fugir do dever de casa (especialmente o de matemática). Passa mais um tempo e você vira o aluno fulano da faculdade Y, que anda com aquela gente que ouve umas bandas estranhas e abusa de anglicismos. Seja como for, sua identificação principal é simples: você é estudante. É isso que você responde quando perguntam o que você faz.
Daí que eu me dei conta agora, aos 45 do segundo tempo, o quanto é estranho me ver destituída desses vínculos, desses títulos. Eu não sou mais estudante. E o mais ridículo de tudo foi perceber isso em uma loja, enquanto eu preenchia meus dados num cartão. Toda sorte de perguntas ali. Que revista eu leio mais (nenhuma das opções), que jornal eu leio, etc. Dentre essas perguntas vinha lá um campo "profissão". E então me vi escrevendo advogada. E isso foi bastante estranho. Algo do tipo: então é isso? Você estuda, estuda, estuda e vira resposta num formulário de loja? Enfim...
Eu não me contenho, eu sou ridícula. Então o que fiz eu? Fui até a faculdade. Andei por aqueles corredores mais uma vez. Dessa vez já na condição de ex-aluna. Lembrei de um discurso numa colação de grau. Diziam que aqueles corredores eram o cordão umbilical que nos unia à faculdade. E a sensação é bem essa, de estar permanentemente ligada àquele lugar. Quando estou indo embora, caminhando para a saída do campus, passo por um grupo de calouros de rosto pintado. Não consigo disfarçar um sorrisinho. Aquela ali já fui eu um dia. Parece que isso aconteceu uma vida inteira atrás.