21 março 2009

For a minute there I lost myself

Após mais de uma década de espera finalmente vi um show do Radiohead. Ingresso comprado desde o início de dezembro e muita ansiedade.

Óbvio que Murphy me ama então uma semana antes do show meu estômago resolveu me foder como não fazia há tempos. Num rompante de extrema disciplina passei a semana à base de sopa (argh) pra domar meu estômago guloso que insistia em digerir a si próprio. As coisas que a gente faz pra assistir o show de mais de uma década de espera...mas vamos cortar direto pro show.

A banda entra com 15 Step, a primeira de In Rainbows e excelente indicativo. Chego a temer que o tempo passe rápido demais. Mais adiante no show acabo comentando isso com um amigo que diz que na verdade o show vai durar uma eternidade. E ele durou mesmo uma eternidade. O suficiente pra nos questionarmos o que será agora dos shows que vêm por aí depois que vi Radiohead. Agora só dá pra ir ladeira abaixo.

Quando ainda estamos eufóricos com 15 Step a banda emenda com Airbag. Golpe baixo hein, Thom Yorke. Domínio do público garantido. Seguimos com There There e All I Need. Momento para alguns casaizinhos fazerem o ritual do acasalamento. É de lei.

Seguimos com Karma Police, Nude (fuck hit na minha modesta opinião), Weird Fishes/Arpeggi, The National Anthem, The Gloaming, Faust Arp. A multidão completamente à mercê da banda e começam a tocar No Surprises. E eu lembro do vídeo, do Thom Yorke com a cabeça submersa em água. De novo, multidão cantando junto em transe. Eu também, claro. Depois da calmaria, Jigsaw Falling Into Place, uma das melhores do In Rainbows.

De repente uma batidinha familiar e custo a acreditar. É Idioteque! This is really happening! Seguimos com I Might Be Wrong e para minha surpresa tocam também Street Spirit. Voltamos ao In Rainbows com Bodysnatchers e voltamos ao Kid A com How To Disappear Completly.

De repente aquela atmosfera intimista pra Videotape. Nesse ponto comecei a ficar tensa. E Reckoner? E Just? Ei, Thom Yorke, cadê Paranoid Android? Foi só pensar nisso que a banda parece me atender. Tocam Paranoid Android. Fica claro ali que o ponto alto da banda na opinião da esmagadora maioria é mesmo OK Computer.

A banda volta a conter os ânimos do público com House of Cards pra logo depois explodir em Just. Aliás, Just é um caso à parte. Just é o vídeo mais foda ever da videografia do Radiohead e um dos mais fodas em geral. Aí em meio a debates filosóficos da banda acabo dizendo que Just é o Thriller do Radiohead (porque é clássico, é significativo e é praticamente um curta também). Aliás, um dos grandes mistérios de Just é o que o cara fala no vídeo. Tem gente que resolveu tentar decifrar.

Voltando ao show. Everything In It's Right Place e, antes de começar a tocar You And Whose Army?, o Thom Yorke avisa: This is for all the times that North America tries to fuck you. Ou algo assim.

Meu Deus, cadê Reckoner?!? Não é possível que não toquem Reckoner! Desespero batendo ao perceber que o show já durava mais de 2 horas. E vem ela. A hora de todos desafinarmos no agudo. Foda.

A música final foi Creep. E foi lindo. Aqueles milhares de pessoas cantando junto a plenos pulmões. A louca que vos escreve também. E foi isso. Uma noite pra lembrar pra sempre. Mais de uma década de espera plenamente recompensada. Fake Plastic Trees e High And Dry nem fizeram falta. Setlist irretocável.

Com relação à interação com o público, eles subiram ao palco dizendo "boa noite, nós somos o Radiohead" (ou algo nessa linha). Além disso rolaram uns "obrigado", a hilária pronúncia de "bom pra caralho" e essa apresentaçãozinha de You And Whose Army?.

Eu não vou falar aqui dos efeitos visuais porque não saberia explicar, mas foi lindo. De verdade. Tinham uns tubos brancos que reproduziam uns padrões de cores e etc. O aspecto visual do show acompanhou muito bem a qualidade sonora. E ainda teve um mérito. Quando tocavam coisas menos palatáveis, mais bizarrinhas, o efeito visual segurava a galera.

Enfim, noite foda da minha vida. É daqueles eventos que no futuro quando alguém for lembrar eu vou ter orgulho de dizer que estava lá. A certeza que fica reforçada após o show é que de fato o Radiohead tá em outro patamar. Eles são referência, são musicalmente relevantes.

Pra quem vai no show de SP, prepare-se. Vai ser lindo.
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