18 fevereiro 2009

I'll feel better when the winter's gone

Hoje foi mais um daqueles dias em que cheguei em casa me sentindo culpada. Porque eu tenho essa mania besta de achar que eu devo me sentir culpada por uma infinidade de coisas. A analogia aqui com o inverno é de uma obviedade absurda. Pelo menos por hoje eu carrego meu inverno particular dentro de mim.

Outro dia falaram de um cara no trabalho. Terceirizado, num trabalho sem qualificação. Enfim, deu pra sentir o drama né? Pois bem. Tem um tempinho que não o via mas até aí nada, não ficamos exatamente próximos, mas sempre nos cumprimentávamos quando nos víamos pelo corredor. Então vem a notícia de que ele tá com câncer e fodido. Principalmente de grana. E tem um filho pequeno. E eu nem sabia que esse filho existia. Imediatamente me sinto culpada.

Eu sei, não tem lógica. Mas me sinto assim por um tempo. Como se eu tivesse poderes pra atribuir doenças escabrosas para os outros. Fiquei pensando que levo uma vida confortável e o cara tá passando por maus bocados. Penso que meu estômago protesta contra meu estilo de vida, mas pelo menos nunca aprontou dessas. E me culpo pelo sofrimento alheio. Ou me compadeço, não sei.

O outro evento foi na manhã de hoje. Ligo pra um lugar atrás de uma pessoa e me comunicam a demissão alheia. E imediatamente penso em todas as quedas de braço entre nós. E me sinto culpada. Mesmo sabendo que eu estava certa. Sobretudo por saber que eu estava certa. Penso nesse período de crise, no salário alheio e me penalizo. Talvez se eu me calasse, se contemporizasse, se oferecesse mais alternativas. Conjecturas. De nada adiantaria. Não posso ficar no ambiente profissional segurando a mão e guiando por caminhos seguros quem tem que andar com as próprias pernas.

Mas me culpo pelas brigas, pela disputa pra saber quem tinha razão. Pelo tempo gasto com assuntos menores. Me sinto culpada pela demissão alheia. Ou apenas me compadeço, não sei.

Eu gosto de deter poder? Claro. Gosto de exercê-lo? Até certa medida, óbvio. Mas nunca gostei de tiranizar nem nunca me apeteceu a sensação de ter poder sobre aspectos da vida alheia.

Cada vez mais me convenço que estar em qualquer um dos lados é uma merda. Se você é demitido sofre, se participa de alguma forma da demissão alheia se sente culpado. Eu sei que no fim tudo vai ficar bem. Sempre rola um networking.

Inevitável imaginar que a essa altura devem estar fazendo a minha caveira. Não que eu me ache figura central da vida dos outros, mas é normal que se descarreguem impropérios na direção de quem contribuiu pro resultado alcançado.

Bem, devo me concentar agora nos aspectos práticos de tudo. Cuidar pra que tudo corra bem. MAs quando menos espero volta aquela sensação. E eu me compadeço. Me culpo. Me martirizo sem que haja mérito algum nisso. Fecho os olhos e tento afastar da cabeça os pensamentos que me causam desconforto., E quem disse que consigo?

Ah, o liberador cansaço. Hoje agradeço pelo cansaço, que há de me patrocinar uma noite inteira de sono. Vou me sentir melhor quando a culpa passar. Espero que seja em breve.
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