20 setembro 2008

Why does it always rain on me?

É um dia como outro qualquer. Você acorda, se arruma, cumprimenta os vizinhos e sai pro trabalho. É mais uma sexta-feira e você está pensando no sábado. O que fazer, onde ir, quem encontrar. E eu sabia a resposta pra todas essas perguntas antes mesmo de acordar. Eu ia cobrar que tocassem Interpol junto com alguns amigos. Pelo menos era o que eu planejava fazer.

Agora fico me perguntando como as coisas mudaram tanto. Uma hora eu planejava o sábado e na outra eu estou numa delegacia respondendo por lesões corporais. Eu, que sempre fui a certinha, que durante a vida inteira fui a babaca que segue as regras. By the book kinda life. Ali, sentada numa delegacia, autora de lesões corporais. Eu, infinitamente orgulhosa da minha correção, ré em um processo criminal. Correndo o risco de ter pro resto da vida meu bom nome manchado.

Preciso confessar que ficar sentada numa delegacia sozinha foi um dos pontos baixos da minha vida. Não queria ninguém ali comigo porque delegacia não é ambiente pra ninguém. Olha só a ironia, a primeira vez na vida que vou a uma é pra ser enquadrada num ilícito penal. Eu, a certinha. Nessa hora depois de muitos anos senti falta do meu pai. Aquela coisa da imagem paterna de proteção. Mas esse pensamento durou só alguns segundos. O que me doeu mesmo foi ver minha mãe entrando naquele ambiente de merda preocupada em fazer com que eu me sentisse bem.

E aí, o que a gente faz numa situação dessa? Já me disseram pra manter a calma. Já me falaram que vai dar tudo certo, que não vai dar em nada. Já disseram que eu precisava me concentrar e que na hora de dar meu depoimento eu devia me portar como advogada acima de qualquer outra coisa. Eu tentei. Juro que tentei. Falei a verdade, fiz questão de registrar algumas coisas, mas sei lá. Tem certas coisas que quebram o espírito.

Talvez eu esteja fazendo tempestade num copo d'água. Aliás, isso é bem característico do meu lado Florbela. Mas porra, é o meu nome, minha imagem, meu orgulho sendo mortalmente ferido. E eu sou extremamente orgulhosa.

Lá vou eu segunda feira procurar um criminalista. Tentar encontrar alguma paz de espírito. Preciso estruturar as coisas. Afinal, tenho uma audiência pela frente e preciso me defender. Eu, a certinha.

Cara, tá foda...tanto filho da puta no mundo e quem corre o risco de se foder sou eu, a babaca certinha.
|