02 agosto 2009

I've got the greatest view from here

Não sei quantos de vocês lembram dos personagens recorrentes desse blog, um deles é a Professora de Teatro, aquela que decidiu rotular como espontaneidade e autenticidade a minha falta de noção. A interação com ela sempre se deu num nível mais intelectual. Porque eu gosto de observar pessoas e predizer condutas e essa coisa toda de analisar a natureza das condutas alheias bem ou mal interessa a alguém que se dedica a querer dar vida a gente de papel.

Uma vez enquanto conversávamos ela me perguntou quando decidi ser questionadora. Aquela pergunta me pegou com a guarda baixa. Porque pra mim não fazia sentido essa coisa toda de escolha. Do meu ponto de vista, nunca houve escolha. Eu questiono e tento achar significado porque sou assim. Nunca parei pra pensar que fazer isso era uma escolha.

O mais curioso nisso tudo é que eu nem me acho questionadora assim. Eu só acho que tento manter olhos, ouvidos e mente aberta a tudo que me cerca. Porque questionar não é bem a graça do negócio. A graça está em absorver o máximo de informação possível. Ampliar horizontes sempre fez parte de mim. Acho que por isso eu gostava mais de História Geral do que História do Brasil no colégio. Porque o que acontecia aqui era reflexo de coisas maiores que aconteciam no mundo. E eu precisava entender o que acontecia no mundo.

Vai ver por isso minha vida online começou em 96. Um Aptiva e uma conexão discada num provedor que nem existe mais (eu acho) abriram ainda mais o leque. E não havia mais volta. Era todo um mundo de informações ao meu alcance, como eu tinha sobrevivido até ali sem todas essas informações?

Essa mania de observar em silêncio e tentar predizer as condutas alheias no entanto não é um exercício de mera observação. Na verdade eu faço isso porque eu sinto necessidade de realmente entender os outros. Principalmente os que me cercam. Eu assisti The L Word pra tentar entender uma amiga. Eu secretamente li trechos de um livro pra tentar entender as razões de outra. Ouvi bandas e vi filmes tentando entender um amigo. Abandonei piadinhas de viado (ao menos na frente dele) por outro. E por aí vai.

Ao mesmo tempo, não é só uma questão de observação. Sem que saibam, submeto todos os que me são caros a silenciosos testes. Vejo como se comportam em algumas situações e avalio a conduta deles, vejo se é compatível com o que esperava deles. E embora minha imagem de todos seja bastante positiva, um ou outro me decepcionou pelo caminho. Esperava mais. Nada que afete minha relação com eles, mas digamos que seja um arranhão. E aí aprendo a aceitar e entender as falhas alheias porque intimamente sei devem fazer o mesmo com as minhas inúmeras imperfeições.

Calma, gente. Nada de paranóia comigo. Quem eu gosto sabe muito bem o que sinto por cada um. E isso não vai mudar a menos que role uma punhalada pelas costas, o que no meu mundo é crime passível de banimento e degredo. E esse tipo de tratamento é dispensado até a quem tem o mesmo sangue que eu nas veias.

No fundo isso é uma maluquice sem fim. Me imponho uma série de padrões éticos que assustariam a maioria. Eu realmente tento fazer as coisas direitinho. Ser leal, justa, ética, coerente. Me esforço horrores. Acho que é pra contrabalançar todos os meus vários defeitos.

No fundo o que me assusta é que, se eu quiser, eu sei ser bem filha da puta. E quando eu fico realmente irritada eu não penso e posso acabar dando brecha pro lado ruim aparecer. E eu realmente me esforço pra ser uma pessoa legal.

Deve ser síndrome de Katie Carr...
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