14 dezembro 2008

O estagiário indie da Globo

Bem, a tal da minissérie Capitu chegou ao fim (e eu não vi nem um mísero capítulo porque essa linguagem teatral em TV me irrita), mas o que é digno de nota aqui é a música que usaram como tema: Elephant Gun do Beirut.

É engraçado ver continuar viva a mística do estagiário indie da Globo. Porque toda vez que toca em alguma atração da emissora bandas menos conhecidas, como Beirut, Peter, Bjorn & John, Muse, The Ting Tings, Regina Spektor, Strokes e etc, eu rio e credito a esta entidade incorpórea "o estagiário indie da Globo". Não que isso me torne indie. E no caso de Capitu eu preciso até congratular o cara. Afinal, Elephant Gun não tá em nenhum álbum do Beirut. Nem em Gulag Orkestar (2006) e nem em The Flying Club Cup (2007). Elephant Gun é um EP!

Mas o uso das minhas bandinhas em atrações globais me incomoda um pouco, admito. Não gosto de ver o povo gostando das minhas músicas só porque tocou em algum programa de TV. Não, isso não é síndrome de underground! Sei lá, é só uma questão de não gostar do hype instantâneo sem qualquer fundamento. Sem que saibam quem é o Zach Condon, que um amigo em sua infinita infâmia chamou de Zacá Camisinha (e eu ri, pasmem!). Eu nem me acho xiita assim com bandas. Não exijo profundo conhecimento. Só alguma noção das coisas. Basta saber que a banda existe tem um tempinho, o nome do vocalista e o nome de umas 3 músicas. Não sou inflexível.

O primeiro efeito do hype sem fundamento é o crescimento da comunidade do Beirut no Orkut. Não que haja algo de errado em entrar na comunidade da banda. Acho que no fundo Elephant Gun pode ser um cartão de visitas interessante pra arrebanhar mais fãs. O problema é que pouquíssima gente pensa assim. A maioria tá ali só porque a música ficou famosa da noite pro dia. E duvido que ouçam outras músicas da banda.

Na verdade tem outra coisa que me incomoda nessa história de Elephant Gun tocar em Capitu. É a absurda sensação de apropriação artística. Calma, eu explico. O clipe da música tem apresentação teatral. Cenário, gente caracterizada e historinha sendo contada. E o que fez Capitu senão usar a mesma fórmula? Me parece plágio. Apropriação da identidade visual de Elephant Gun. É como se alguém tivesse lido a sinopse da minissérie, lembrado do clipe e dissesse num estalo "já sei que música podemos usar como tema!".



Tá, eu sei, esse post soa absurdamente infantil. Isso pode (e deve) ser creditado à minha profunda falta de aptidão para escrever friamente sobre assuntos que me são caros. Eu sei que soou também como síndrome de underground, mas nem é. Não é que eu queira que Beirut continue desconhecida, só não quero que as pessoas gostem dela só por uma música. Podem até gostar por ouvirem na TV, mas que não fique só nisso. Se é que isso faz algum sentido.

Acho que no fundo o que realmente me incomoda é a vinculação de Elephant Gun a essas minisséries teatrais na TV que tanto me irritam. Pronto, falei.
|