09 outubro 2008

Surtos passionais - Rio de Janeiro

Ultimamente tenho feito muitas viagens de trabalho naquele esqueminha corno bate e volta que eu já contei aqui, principalmente pra São Paulo. Eu vou, faço minhas audiências, participo de reuniões, troco cartões de visita e apertos de mão. Tudo muito businesslike. Fui essa semana, semana que vem vou de novo e ainda pressinto mais umas 2 visitas em breve.

Já estou me habituando a engarrafamentos na 23 de maio, a dizer aquelas mesmas frases quando me perguntam o itinerário. Os mesmos nomes nas placas. Rubem Berta, Tutóia, Alameda Santos, Augusta, João Manuel, etc. O mesmo céu cinza, a mesma chuva.

Num desses dias passei a amanhã em SP e a tarde de volta no Rio. A bem sucedida manhã foi cinzenta, chuvosa e com temperatura de 15 graus. O fato de eu não estar agasalhada e ainda assim não sentir frio foi percebido com certa estranheza. Aquela idéia pré-concebida de que cariocas congelam em SP e etc. Humpf. Volto pro Rio e o céu azul, sol.

Passa uma semana e lá vou eu pra SP de novo. O mesmo clima ruinzinho. No vôo de volta sou obrigada a aturar na poltrona do lado um daqueles atores mirins do A-list global falando merda a porra do vôo inteiro. Não bastasse isso com ele estava também o moleque mala filho da protagonista da novela da Portelinha. Foi a ponte aérea mais longa da minha vida. Não bastasse isso um acompanhante do Zéu Brito ainda tentou entrar no taxi que EU ia pegar. Nonsense. Entrei no taxi e foda-se. Cheguei primeiro.

No dia seguinte estou indo pro trabalho e torno a ver o céu azul, o mesmo sol. Suspiro pensando que é bom estar em casa. Eu amo essa cidade. Fato. Esse é o meu lugar nesse mundo. É aqui que eu faço sentido. Aqui vivem os meus amores, grande parte daqueles que me são caros. Confesso que uma vez fiquei com os olhos marejados pensando essas coisas enquanto passava por uma área da cidade. E olha que nem foi em ponto turístico. Estava no carro, no banco do carona, a caminho.

Lógico que essa cidade tem mil defeitos. Mil problemas. Isso que é interessante. Como em qualquer caso de amor, aceito os defeitos do objeto da minha afeição e sei também reconhecer suas virtudes. E convivo assim, reclamando da rotina desse relacionamento mas ao mesmo tempo absolutamente apaixonada pelo lugar onde tudo faz sentido.

Eu sei, soa absurdamente ingênuo. Soa absurdamente bobo, sem sentido até. E desde quando afeições fazem sentido? Depois de um tempo lendo isso aqui acho que já ficou bastante claro o quão absurdamente simbólica eu sou. Eu me expresso dessa forma. Me mantenho aparentemente blasé torcendo pra que meus gestos denunciem àqueles que me são caros o que há por trás dessa imagem de que não me importo muito com as coisas.

Eu posso ir a qualquer lugar. Garanto que a melhor sensação vai ser retornar à essa cidade. Família, amigos, pessoas queridas. Às paisagens conhecidas. Minha rua, minha casa. Caminhar pelas ruas que caminho, ainda que isso signifique vez por outra o incômodo de ter meu salto preso em pedras portuguesas. O som do trânsito do centro da cidade, táxis amarelos, a Baía de Guanabara vista do alto de 37 andares, o maldito CD de flauta andina vendido na praça perto do trabalho, rostos conhecidos, o sol que parece nascer das águas em tons alaranjados, minha faculdade, meu trabalho, lugares emblemáticos, um certo corredor no 4º andar do Fórum, a livraria na Rua da Assembleia com um café e clássicos do cinema em DVD, aterro visto pela sacada do Hotel Glória, Maracanã lotado em jogo do Flamengo, mesa de bar na Lapa, enfim...

Eu reclamo horrores, mas é aqui que tudo parece encaixar. Muito embora o post não faça lá tanto sentido.
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