04 outubro 2008

Digressões de sábado - don't get me wrong

É sempre difícil postar alguma coisa que envolve de alguma forma pessoas que lêem isso aqui. Ainda que esporadicamente. Pior ainda é quando eu me vejo prestes a postar sobre algo que envolve uma pessoa que lê isso aqui e me conhece. Enfim, misturar post do seu blog anônimo com amizade inspira absoluta cautela. Daí a música do Pretenders no título. Enfim, continuemos.

Algum tempo atrás me procuraram pedindo ajuda profissional porque precisavam ver se o advogado sabia o que tava fazendo. É meio que uma violação da ética profissional, o que a princípio abalou minha vida by the book, mas amigos vêm sempre primeiro então to hell with professional ethics. E eu acabei me envolvendo numa situação que faz com que eu me sinta muito, muito negligente de tempos em tempos.

Racionalmente eu sei que eu não posso patrocinar causas porque eu tenho um contrato de exclusividade com quem me paga todo mês. Emocionalmente eu encaro como um dever pessoal sair patrocinando as causas alheias. Daí veio a genial idéia de ser ghost writer de petições. Eu ajudo e não me complico. O problema é ver alguém usar o meu argumento. E eu sou ciumenta pra caralho com tudo que é meu. Inclusive a escrita. Passo por cima disso, não é tão difícil assim.

Mas tudo bem, vou eu ler o trabalho alheio e revisar. Isso não é nenhum absurdo, eu reviso muita coisa no trabalho, já estou acostumada com esse lado crítico de diga isso, não diga aquilo. A diferença é que quando eu faço isso é um trabalho preventivo, fechando a porta pra processos.

De alguma forma isso me resgata, me faz fugir do cinismo corporativo, me faz lembrar da menina bobinha e idealista de 12 anos que queria fazer Direito para ajudar os outros, a coletividade. Me aproxima da semi-idealista que ouvia com brilho nos olhos o discurso do paraninfo dizendo que devemos defender o que é justo, legítimo. Hoje em dia acho que foco no legítimo e cavo brechas.

O foda de se envolver em causas de quem lhe é caro é se envolver demais. E eu me envolvo demais em tudo que me disponho a fazer. Aí tudo resvala na minha absurda capacidade de empatia. Eu sei que é contraditório falar em empatia quando eu passo a maior parte do tempo vendendo a imagem de fria e racional, mas enfim.

Eu queria ter a solução pra todos os problemas e a disponibilidade pra me fazer presente ao mesmo tempo em todos os lugares em que preciso estar. Minha maior preocupação no momento está em SP. E me dilacera imaginá-la chorando sem estar perto e sem poder fazer nada. E eu aqui, domando a vontade de sair por aí batendo em meio mundo como forma de fazer justiça a quem não merecia a terça-feira de merda que teve. Vontade de estar em São Paulo por mais que algumas horas para compromissos profissionais e sem comissários de bordo me perguntando se aceito balas enquanto me enfiam goela abaixo propaganda da Arcor, que sorteiam livrinhos de receitas regionais como se fosse legal e que, com aquele sorrisinho mecânico, me perguntam se aceito alguma bebida. A vontade é de pedir uma Absolut mas eles só servem cerveja. Sol e Xingu, senhora.

Fugi do assunto legal agora. Uma preocupação chama a outra. Enfim, a sensação que eu tenho é que eu não vou sossegar enquanto eu não entregar uma minuta de petição. Talvez isso explique alguém que em plena manhã de sábado fica escrevendo coisas como "sua vida e imagem tomaram contornos caricaturescos à guisa de entretenimento. Entregou-se ao escrutínio público a vida particular de alguém que jamais foi figura pública".

Debruçada numa petição às 9 da manhã de sábado. Mais nerd que isso impossível. E se você ler isso (espero que não) não interprete mal e nem pense que não deve recorrer a mim. Eu faço as coisas com a melhor das intenções e é bom que me afete de alguma forma. Eu produzo melhor assim.
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