02 maio 2007

Maluquices cotidianas e chás de panela

Então tá né, agora eu tenho 26 anos. O quarto de século foi deixado pra trás e eu estou mais próxima dos 30 do que dos 20. Não que isso vá fazer alguma diferença significativa. Continuo me achando uma irresponsável de 22 com surtos responsáveis de 35. Complicado? Bem, talvez.

A questão é que a gente vai crescendo e chás de panela se multiplicam na nossa vida (sem contar chás de bebê, que me assustam horrores). Teoricamente chá de panela é uma coisa fácil. A pessoa cria uma lista (preferencialmente num site. Século XXI, 2007 né gente...) e você vai lá, escolhe um item e compra. No big deal. O problema é que pra mim comprar algo de uma lista tem sempre alguma razão ulterior. Tipo, eu não escolho a esmo e compro. Tudo é uma questão do que você quer dizer com aquilo. Ou do que você não quer dizer. Por exemplo, quando uma amiga se casou foi lá e colocou uma lista num site. E eu vendo aquilo. Assadeiras, panelas, talheres, rechaud e etc. E eu pensando "hum, mas eu não quero ser associada a um rechaud" ou então "eu não quero ser lembrada por uma assadeira". Então o que fiz eu? Comprei taças de champagne. E redigi todo um texto pretensioso, pedante e piegas associando as taças a comemorações, brindes, felicidade (E o texto do cartão começou assim: dentre as possibilidades de presentes escolhi essas taças. Eu sei, você vai apelar pra piada fácil e dizer que de mim esperava mesmo algo com alguma inclinação alcoólica, mas não é isso. Pensei nas taças como um permanente brinde que faço à felicidade de vocês).

E a questão era bem essa. Se vão lembrar quem deu o que, prefiro ser lembrada por taças do que por assadeiras, rechauds ou panelas. É que esse é o lado real das coisas. A rotina. E eu ainda prefiro ficar com a parte mais divertida da coisa.

Aí uma outra amiga vai casar e resolveu ser do contra e não fazer lista. Pra quê facilitar né? Pois é. E já que ela não fez lista pergunto diretamente o que ela quer e ela me diz que eu posso comprar um jogo de cama pra ela. Ok, tranqüilo, um jogo de cama coming right up. Mas aí eu páro, penso, e começo a surtar. Porque, veja você, de repente eu estarei associada à cama. E aí tem todo o horror e péssimas imagens mentais de que podem trepar no jogo de cama que eu der. E, sério, eu não preciso me sentir parte da vida sexual dos meus amigos. Eu não quero associação alguma com a vida sexual deles.

Tá, isso pode (deve) ter soado paranóico. Uma coisa meio Woody Allen (e eu nem gosto dele), mas a questão é que eu tenho que comprar coisas pra dois chás de panela e sou indecisa demais pra isso por toda a questão de dar significado (ou evitar associações) a tudo. Veja bem, eu não sou de falar, eu sou uma pessoa de pequenos gestos, lógico que objetos teriam uma espécie de "função social" (pra me ater a termos jurídicos). Mas até sexta-feira tudo estará resolvido. Até porque nos dois casos o tempo urge. Daqui a pouco já tem até open house pós-casamento. Enfim, lá vou eu de novo pensar no que comprar e abstrair o uso libidinoso do jogo de cama.
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