15 fevereiro 2007

Diálogo de alguns dias atrás:

- Você percebeu que essa é a primeira vez que nos encontramos na faculdade depois da colação de grau?
- É verdade, não tinha percebido...
- É tão estranho!
(meu silêncio com cara de “puta merda, é estranho mesmo...”)

E então me vem à cabeça isso:

“Gostaria de lembrar, no entanto, como faço com todos os meus alunos, que as coisas não caem do céu. Nem mesmo para gente talentosa como vocês. É preciso ir buscá-las: correr atrás, mergulhar fundo, voar alto. É preciso ter determinação e paciência. Muitas vezes será necessário voltar ao ponto de partida e recomeçar tudo de novo. As coisas não caem do céu. Está em Camões: “As coisas árduas e lustrosas só se alcançam com trabalho e com fadiga”. Mas quando, após haverem empenhado cérebro, nervos, coração conquistarem o resultado almejado, não tenham medo de ser felizes. Ao contrário, saboreiem o sucesso merecido, gota a gota. Sem esquecer, no entanto, que ninguém é bom demais, que ninguém é bom sozinho e que no fundo no fundo, por paradoxal que pareça, as coisas caem mesmo é do céu. E é preciso agradecer.”.

E mais isso:

“O resumo de tudo que lhes disse cabe em uma frase: sejam felizes sem culpa, amem a si mesmos, amem ao próximo, tenham ideal, não tomem decisões com raiva, corram os riscos que valem a pena, falem de maneira precisa, clara, civilizada e sem excessos, sejam determinados, sejam humildes, sejam bem-humorados e desfrutem sem medo o sucesso que farão.

Muitas dessas idéias cabem com perfeição em um poema de José Martí, mártir da independência cubana. Elas expressam uma boa atitude diante da vida. Com ele eu me despeço de vocês:

“Cultivo uma rosa branca
em julho como em janeiro,
para o amigo verdadeiro
que me estende sua mão franca.

E para o mau que me arranca
O coração com que vivo,
Cardo ou urtiga não cultivo:
Cultivo uma rosa branca”.

Vão em paz, sejam o melhor que puderem, Deus os abençoe.”
.

E me pego pensando que se pudesse voltar no tempo reescreveria com prazer parte da minha vida acadêmica. Mas só parte. Para minha surpresa, percebo que a parte que reescreveria envolve uma disciplina que nunca me ofereceu problemas ou insucesso. A parte que não reescreveria foi um percalço.

Há em Economia um conceito chamado externalidade positiva. Pois bem, um dos meus grandes percalços acadêmicos teve uma externalidade positiva, e ela me permitiu fazer parte de coisas maiores, mais significativas. Quem sou eu pra desvendar os mistérios da minha existência...

A grande verdade é que baixou em mim uma persona sentimentalóide, saudosista. É como o final do Apanhador no Campo de Centeio, quando o Holden diz que o problema de contar uma história é a saudade que dá assim que você termina de contar.

Enfim, sentimentos contraditórios de despedida e permanência. E o que mais faço é pensar. Gente burra deve levar uma vida mais fácil do que eu, que me questiono 24/7. As referências surgem do nada na minha cabeça. A última foi anteontem, saindo de casa pro trabalho. Estava eu quieta e, de repente, vem à cabeça: “cause I wonder sometimes about the outcome of a still verdictless life. Am I living it right?”. Como se houvesse resposta certa...yeah, right. Eu já disse antes que não tenho respostas. Don't believe me when I say that I've got it down...

Então eu me peguei, hum, tocada pelas palavras, pelo discurso, pelas memórias daquela noite. Pensando nisso de ser o melhor que eu puder ser. Eu sei, eu sou fria e racional como um antigo soldado soviético, mas, ora, eu também tenho um coração.

p.s: aos que conhecem a história do "fria e racional como um antigo soldado soviético", me poupem de escrever aqui o que vocês me diziam invariavelmente pra contradizer isso. Eu ainda tenho uma imagem a manter... =)

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