09 junho 2008

Da série digressões passionais´

Parte 1: Flamengo

Eu tava aqui conversando sobre futebol outro dia. Eu tenho essa mania de achar que nem me importo com as coisas, mas nossa, como me importo com futebol. Como me importo com o meu time. Estamos em junho ainda e como eu já sofri por futebol esse ano.

Já ouvi de um cara do trabalho que é estranho mulher gostar de futebol, que não combina, só pra me fazer emendar uma crítica ao machismo no almoço. Mas isso nem merece comentário.

Tava aqui tentando lembrar quando começou minha história com o meu time. Bem, como a maioria das pessoas, meu time veio do meu pai. Sim, eu sei, Blood do Editors e tudo mais, mas é preciso admitir que pra time ele tem bom gosto.

Eu lembro que quando eu era pequena eu tinha 3 camisas de futebol na gaveta. Uma da seleção, uma do Flamengo e uma do Fluminense. Sabe como é, todo pai tem um amigo babaca que acha que vai influenciar. Nunca liguei pra camisa do Fluminense, mas adorava a minha camisa do Flamengo. Camisa 10, claro. Anos 80, Zico, não tinha como ser diferente.

Eu cresci entre meninos, jogava com eles. Isso não quer dizer nada na verdade. Eu sou uma perna de pau de marca maior. Aprendi a fazer umas poucas embaixadinhas porque era o passaporte pra poder brincar de altinho (aquela troca de passes sem deixar a bola cair). E já perdi o jeito de vez, diga-se de passagem. Nos tempos de educação física meu negócio era basquete e handball. Tenho uma medalha ridícula de segundo lugar numa competição de handball do colégio. Uma daquelas coisas que a gente guarda no armário, esquece e um dia acha de novo no meio de uma arrumação. Mas eu fugi de novo do assunto não é?

Voltemos então ao tema. Eu cresci ouvindo histórias de jogadas incríveis, craques incontestes, da época que o Flamengo ainda fornecia jogadores à seleção. Digo, jogadores atuando no Flamengo e na seleção. Hoje em dia o Flamengo continua a prover jogadores para a seleção, mas via de regra eles chegam lá depois de terem saído do Flamengo pra algum time estrangeiro.

A verdade é que não sei quando tudo começou. Poderia dizer que já nasci rubro-negra. Digo isso porque não há uma lembrança sequer de um dia da minha vida em que a designação de time fosse uma lacuna. Nunca houve esse vazio a preencher. Eu sou rubro-negra porque não poderia ser diferente. Porque não saberia ser diferente.

Quando o assunto é futebol admito até que sou afeita a pieguices. Se vejo a minha torcida lotando o Maracanã, empurrando, me sinto até meio besta. Tipo, uau, olha como somos foda. Lembro de como é estar no meio dessa torcida e penso que preciso voltar a freqüentar estádios. Mas eu preciso fazer tanta coisa que isso acaba ficando em segundo plano. Corrigirei essa falha. Afinal, eu não sou fresquinha como um amigo que diz temer (ou não suportar) multidões.

Em 1992, frustração das frustrações, não estava no Maracanã pra ver meu time ser campeão brasileiro. Meu pai achou que eu era muito pequena. Ainda hei de ver isso acontecer. Torço pra que seja em breve. Mas torço cautelosamente, porque eu já disse isso antes, conheço meu time e sei que ele é sem vergonha.

Vou falar algo que vai enojar os outros agora mas dane-se, o blog é meu. Como torcedora do Flamengo eu me posto em uma condição superior frente aos outros times. Eu não abaixo a cabeça. Nem quando o time vai mal. Porque eu sei que a instituição é muito mais importante que esses incidentes menores. Eu sei que tudo o que representamos transcende qualquer tropeço.

E tem mais, tem uma coisa que me emputece: essa gente que se diz torcedora e não sabe nem que o hino oficial do Flamengo não é aquele do "uma vez Flamengo, Flamengo até morrer". O hino oficial é o do "Flamengo, Flamengo, tua glória é lutar. Flamengo, Flamengo, campeão de terra e mar". Que tipo de torcedor é esse que não conhece as informações mais básicas? Absurdo!

Aliás, falando em mar, lembrei agora do livreiro da faculdade. Um senhor já bem velhinho que chamamos pelo sobrenome no diminutivo. Lembro que um tempo atrás, no aniversário do Centro Acadêmico, pediram que figuras históricas dessem seus depoimentos. Pois bem, li o depoimento dele e descobri que ele tinha sido remador do Flamengo. Da época do Buck! Mais que isso, foi da seleção!

Vi a foto dele dos tempos de remador. Engraçado. Porque pra mim ele é aquele senhorzinho que me cumprimentava nos corredores, que sabia que eu estudava de manhã e um dia, ao me ver à noite na faculdade, perguntou "o que você está fazendo aqui a essa hora, minha filha?". "Estou fazendo algumas matérias à noite, fulaninho". "Ah sim, muito bem".

Eu comecei com time e fui parar na faculdade né? Pois é. Eu sou a rainha das digressões. Na verdade um tema tem tudo a ver com outro. Ambos os assuntos são permeados pela paixão. Embora bastante prática, pragmática, sou uma criatura absurdamente passional. Vá entender...

Enfim, eu to aqui escrevendo essas coisas morrendo de sono. Aposto que quando eu ler amanhã vou achar que não faz o menor sentido. Bem, eu já disse isso antes mas repito: fazer sentido é para os fracos.
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