27 maio 2008

Bring it on

Depois de passar alguns dias ouvindo músicas feitas para o meu estado de espírito péssimo (ouvir Roads do Portishead no repeat nunca é bom sinal. Nunca.) as coisas começam a melhorar. Agora entrei no estágio da irritação. É bom porque me estimula. Me dá foco. Então é isso, hit me with your best shot, eu aguento. If you wanna press, press us.

Enfim, de volta à programação normal. Muito embora a programação normal não seja lá muito normal. Eu ando tão por fora das coisas que outro dia uma amiga me deixou um scrap avisando que tava grávida. E eu pensando "Como? Quando? Onde?". Enfim, desatualização total. As pessoas agora me dão notícias bombásticas por scrap.

Resolvi fazer aulas de um idioma que eu sempre achei ridículo. Turma pequena, gente sem noção, as coisas de sempre. Lá pelas tantas o professor começa a mandar uns fazerem perguntas pros outros. Daí que me perguntam sobre meu pai. Fodeu. Porque meu pai é um assunto complicado.

Tá, nem é copmplicado. Mas vocês vão achar que sim. A questão pra mim é simples. Um dia, alguns anos atrás (nem tantos anos assim), resolvi racionalmente que meu pai não era uma pessoa que acrescentava na minha vida. Toda pessoa que não me acrescenta nada eu removo do meu convívio social. E foi o que eu fiz com o meu pai. Eu acho que ele não acrescenta nada então que não ocupe espaço.

Eu sei, falando assim parece ridículo, mas eu tenho meus motivos. Alguns de vocês sabem, entendem e concordam. Isso me basta. Era só o que me faltava, levar a fama de revoltadinha.

Voltando. Perguntaram dele. Eu dou aquelas respostas padrão e genéricas. Profissão, idade, essas coisas bestas que adoram perguntar em início de curso de idiomas. A vontade era responder que nem sabia nada dele pelos últimos anos. Mas achei que ia pegar mal falar isso. As pessoas têm um apego ridículo a laços sangüíneos, os encaram com verdadeira sacralidade. Nem sempre eles valem a pena. Aliás, falando nisso, toda vez que ouço Blood do Editors lembro dele. Blood runs through our veins, that's where our similarity ends.

Confesso que tenho uma preocupação. Não quero que meu pai saiba nada de mim. Onde trabalho, quando me formei, o carro que dirijo, quem são meus amigos, lugares que freqüento. Porque ele é do tipo que faz teatrinho, vai rolar aquele número do coitadinho, pai amantíssimo rejeitado pela filha. E eu não tenho o menor saco pra teatrinho. Nunca tive.

Provavelmente terei notícias dele só quando ele morrer. Ou estiver perto disso. Acho que quando esse momento chegar a família dele vai acabar me ligando. Isso me preocupa. Porque eu não sei o que eu vou falar pra eles. Tá arriscado eu soltar um "ok" e pronto. Fico pensando se vou ter coragem de ser verdadeira ao que sinto. Talvez finja me importar só pra não assustar ninguém, pra poupá-los. A verdade pura e simples é uma só: não há como chorar a morte de alguém morto em vida.

Quando eu ainda sentia raiva fantasiei coisas sobre a morte dele. Me imaginava cuspindo no caixão e uma variedade de pequenas crueldades. Na época me trazia alguma satisfação. Hoje em dia acho que o assunto todo é indiferente. Isso me torna insensível? Não sei...

Interessante como eu comecei a postar sobre uma coisa e as coisas tomaram rumos completamente diferentes. Acabei postando algo completamente diferente do que tinha imaginado.
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