10 maio 2008

O estranho mundo corporativo

Toda manhã quando chego no trabalho sofro um choque cultural. Porque preciso acionar algum comando pro meu cérebro entrar no módulo corporativo. No mundo corporativo não existem trabalhos, existem projetos. As pessoas parecem achar bonito dizer ter projetos. Enfim. Eu também tenho os meus.

Um deles me deu absurdas crises de consciência durante umas 3 ou 4 semanas. Aquela coisa de perder o sono às 4:30 da manhã se achando uma criatura filha da puta, cruel e insensível. Essa fase passou mas ainda sinto esporádicos incômodos com a coisa toda, só não perco mais o sono com isso. Sim, ainda é um projeto em andamento.

Outra coisa interessante no mundo corporativo é que você nunca toma conta da sua equipe. Você faz gestão de pessoas. Então fico eu aqui, gerindo pessoas. Administrando ciuminhos escrotos e o ego inflado de quem não é porra nenhuma mas se acha a salvação do Rock and Roll da advocacia. A vontade é mandar descer da porra do salto e mandar se foder, mas não faço isso. A criatura fica se achando um sucessor natural da escola italiana de processualistas. Não suporto mais o discursinho batido.

Outra coisa interessante no mundo corporativo é o apego aos títulos. Eu ignoro o meu e as pessoas parecem não entender. A questão é bem simples, eu não preciso de título pra me impor. Eu posso me foder toda, mas cumpro todas as tarefas que me são dadas. É uma questão simples de responsabilidade. Se der merda a culpa vai ser minha? Então as coisas vão ser feitas do meu jeito.

Essa semana eu descobri a extensão das hostes inimigas. Tirando algumas poucas pessoas, eu to cercada de filhas da puta por todos os lados no trabalho. Entrei no módulo defesa. Instinto básico de preservação. E como as pessoas são fofoqueiras! A maioria das pessoas com quem eu trabalho fala mais que pobre na chuva. Pedir segredo a uma delas é a mesma coisa que pedir pra anunciar em praça pública. Os outros conseguem guardar segredo por uns 20 minutos antes de contar até pro amigo do primo da tia da vizinha.

Outro dia eu quase torci o pé quando um passante esbarrou em mim na rua. E nem se importou. Caminhei alguns metros mancando e, chegando no elevador, encontro uma amiga e conto o que aconteceu. Logo depois suspiro um irônico "gentalha". Ela ri. Um cara no elevador não consegue esconder um risinho com a minha exclamação. Ser meio sem noção diverte.

Cada vez mais eu tenho a impressão de que o mundo corporativo é uma espécie de colégio primário com um jargão específico.
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