16 março 2008

"I say the right things but act the wrong way"

O post é longo, aviso logo.

Uma vez me disseram que eu sou o que chamam de "sujeito pós-moderno com crise de identidade cultural" ou algo assim. Rótulos facilitam. Como se eu buscasse um problema específico pra ser curado com uma pílula. Xanax Youth, diria o The Moog.

Crise de identidade cultural é bem o caso. Porque eu sou aquela que usa all star, jeans e camisetas infames. Entretanto, também sou aquela que usa salto e terninho (creiam-me, quem só me viu de jeans nem consegue me imaginar de terninho e quem me vê fantasiada de barbie advogada estranharia me ver de jeans e all star). Na verdade me sinto perdida entre as duas imagens, entre quem eu sou e quem eu devo ser. Impossível não lembrar de Brothers on a Hotel Bed (But now he lives inside/Someone he does not recognize/When he catches his reflection on accident). Ben Gibbard, como sempre, dizendo com bem mais propriedade o que não consigo verbalizar.

Ultimamente tenho me sentido mais pressionada que o normal. Porque cismaram que desde que vendi minha alma ao mundo corporativo eu virei outra pessoa. Alguém mais arrogante, uma versão piorada. Até parece que eu virei uma pessoa ruim da noite pro dia e que agora saio por aí bebendo o sangue de inocentes. Ninguém sabe o que é estar no meu lugar. As responsabilidades, as cobranças, a realmente ingrata tarefa de suprir ausências e não deixar a bola cair.

O que você sentiria se teu chefe te procurasse e dissesse muito claramente que você vai ter que se virar pra ser o novo braço direito dele? É essa a minha responsabilidade. Me transformar em tempo recorde no braço direito do chefe. Pior, as pessoas sabem disso. Do papel que me cabe na nova organização de tarefas. E o telefone que toca o dia inteiro com perguntas e gente querendo orientações. Decisões, decisões...eu preciso decidir um monte de coisas. E o e-mail que não sossega, já o acompanho até aos fins de semana. Há na caixa do meu e-mail do trabalho 20 e-mails pendentes. 20! A semana ainda nem começou e já tenho 4 reuniões agendadas. Ao longo da semana vão aparecer ainda mais reuniões de última hora. É sempre assim.

Apesar de tudo, eu realmente adoro o que faço. Eu sou babaca o suficiente pra amar minha profissão, a carreira que escolhi. Mas é foda ver alguém usando contra você algo que você adora. É foda ouvir que você mudou e ser vilanizada. Eu não mudei. Só ando cansada. Sem a paciência de antes. Acontece...não é tão absurdo compreender isso. Eu juro que eu tento entender o lado dos outros. Não há um dia que eu não tente entender o ponto de vista alheio. Maldito senso de justiça que me faz buscar furos na minha postura pra equilibrar as coisas. Maldita consciência que fica dizendo que eu preciso tentar entender o lado dos outros senão viro uma egoísta. É tão absurdo pedir que me entendam?

Eu sou defensiva ao extremo. É uma questão a ser trabalhada. Eu não sei externar bem as coisas. Eu não digo "eu te amo" com freqüência. Eu travo. Eu me acho sem jeito até pra abraçar os outros. Sei que não é vergonha admitir o que sinto mas verbalizar é vulnerabilizante. E eu não gosto de me sentir vulnerável. Eu sou a impassível. A blasé.

De uns tempos pra cá acho que perdi meu poder de concisão. Minha coerência. Diria até que quando tento conversar e externar o que penso, as coisas que sinto, na minha cabeça vem aquela voz sacana dizendo que da narração dos fatos não decorre logicamente a conclusão (piada jurídica para os iniciados). Me falta lógica quando eu permito que emoções tomem parte da situação. Há tanto por dizer e eu não acho as palavras. Eu se as acho as digo da forma certa mas com a postura errada e elas se voltam contra mim. Tudo muito complicado.

A impaciência não me ajuda em nada. Porque eu fico agressiva e aí é aquela coisa: Anger leads to hate. Hate leads to suffering. O caminho pro lado negro da Força. Eu sei que eu viro um monstrinho quando estou com raiva. Falo coisas pra ferir. Me arrependo do que disse ao terminar de pronunciar a última sílaba. Mas é tarde, já não posso desdizer as coisas. Demasiadamente impulsiva para alguém que defende a prevalência da razão.

Sangue do meu sangue. Minha versão menos diplomática. Você que nem sabe que esse blog existe (e tomara que nunca o descubra). Que acha que todas as minhas amigas são gays. Que ri quando começo minhas digressões sobre bandas, quase uma Rain Man. Que diz ter orgulho de mim mas me critica. Será que é tão difícil entender que apesar da falta de paciência e do cansaço eu te amo?

Cansaço generalizado. Não dou mais murros em ponta de faca. Estou fechando questões. Não há mais tempo a perder. Aposentei questionamentos passados e fantasmas de "e se...?". Não há tempo a perder com conjecturas. Não há razão em revirar o que poderia ter sido e não foi. A vida é linear.

Viu, escrevi isso tudo e no final nem fez sentido. Que seja declarada a inépcia desse texto.
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