02 março 2008

Hell de Janeiro

Eu relutei um pouco em escrever isso, mas a verdade é que eu preciso escrever. Não dá pra fingir que eu não vi o que vi. Toda vez que entro no meu carro lembro. E quase tive vontade de me trancar em casa e não sair mais.

Eu sou gênio ruim, uma baixinha folgada (como todas as baixinhas). Acontece uma merda no trânsito, fico puta e lá vai a imbecil acelerar com tudo atrás de um carro. Eu não pensei em nada na hora, só senti raiva e vontade de seguir. Meu anjo da guarda, que deve fazer hora-extra, me fez parar. Sorte minha.

Alguns metros adiante quem eu ia seguir fechou a rua e saíram do carro alguns homens encapuzados e armados. Fiquei apavorada, óbvio. Um medo daqueles que faz o corpo inteiro tremer e que tira o ar. Começa o caos. Gente saindo dos carros e desejos de dar ré. Bem, eu chego a engatar a ré. No que faço isso um cara aponta a arma pra mim. Eu não lembro bem tudo que pensei, mas achei de verdade que ia levar um tiro. Pensei que ia morrer.

Volto pra casa tremendo. Completamente apavorada. Quando chego estou em choque, não sei o que fazer. Penso em chorar mas não consigo. Olho o carro e nem amassado ele está, só uns arranhões, mas é como se tivessem me esmagado ali dentro. Penso em mudar de cidade, mudar de país. Penso em não sair mais de casa. No meio disso tudo lembro que não, a vida não é assim. Que eu me recuso a me trancar em casa com medo. Que na vida há que se marcar posição e eu me recuso a deixar que me vençam, principalmente pelo medo.

Continuo passando pelos mesmos lugares. Meu coração ainda bate mais forte naquele trecho do caminho. Ainda fico tensa. A vida segue. Tem que seguir.
|