10 outubro 2007

O mundo de Nárnia fica no meu quarto – parte 2

Acho uns papéis e começo a folhear. De repente vejo dobrada uma folha que arranquei de uma revista. Abro e nem acredito. Arranquei a folha porque era a única coisa que eu queria guardar daquela revista dos anos 90 que já tinha ido pro lixo muitos anos atrás. E o que tinha ali pra que eu tivesse vontade de guardar? Bem, tinha a publicação de um e-mail meu. Tão revoltadinha. O e-mai era um desejo de morte a uma fã do Hanson. Eu explico. A tal revista tinha publicado no mês anterior a foto de uma carta que tinham recebido de uma fã do Hanson. Nessa foto dava pra ver que tava escrito “I love Hanson” e a retardada que mandou a carta alegava ter escrito aquilo com o próprio sangue. Eu vi aquilo e fiquei revoltada, aí mandei um e-mail que foi publicado. Como eu sou prolixa e o espaço era curto, editaram o que eu escrevi e o final ficou fora de contexto e não foi fiel ao que eu disse, but anyway.

Engraçado que anos depois, quando já estava na faculdade, estava conversando no intervalo com umas amigas e comentei o episódio. Uma delas fez então uma cara de espanto e falou “eu lembro disso! Era você?”, disse que sim e ela emendou “Eu li isso e pensei: essa menina deve ser legal”. Eu, na minha absoluta infâmia, ri e falei “viu como você se enganou?”. Sempre lembro desse episódio na faculdade quando o assunto do e-mail raivoso vem à tona. Poxa, a menina era de outra cidade e de repente vamos parar na mesma turma na faculdade. Surreal.

Resolvo mexer organizar minhas gavetas. Em uma delas vejo algo amarelo meio escondido num canto, resolvo ver o que é. Era o véu da Feiticeira. Calma, eu explico. Quando entrei na faculdade e levei trote, eu e os outros calouros fomos divididos em grupos. Tinha o grupo das Minnies (com orelhinhas da Minnie), o grupo dos diabinhos (com chifrinhos), o grupo das anteninhas e tinha o grupo das Feiticeiras. Esse grupo usava um véu amarelo com uns paetês, uma coisa bem vagabunda mesmo, mas fazia parte do trote e encarei na boa. Eu tava feliz demais por ter passado no vestibular pra me importar com uma besteira dessa. Foda era o risco de ter que imitar a Feiticeira.

Enfim, eu fui uma Feiticeira anos atrás e o véu ainda guarda uma mancha de batom vermelho vagabundo na parte de dentro (porque veteranos adoram pintar calouros com batom vagabundo). E lá fui eu pro pedágio com o véu. Ouvi muita besteira, ri horrores e cumpri o ritual do trote e ajudei a bancar a choppada, dever de todo calouro. Mas isso é outra história.

Agora você pode estar pensando “ta, mas você se desfez do véu?”. Como diria meu patrono: “a resposta é negativa. Não”. Talvez por baixo dessa fachada de fria e racional como um antigo soldado soviético haja uma sentimentalóide que se apega a essas coisas. Ei, é uma memória boa, eu tinha sobrevivido a um processo seletivo concorridíssimo e uma nova fase da minha vida tava começando. Em alguns aspectos eu sinto falta da minha versão caloura. Existia aquela aura de invencibilidade, de que eu era capaz de qualquer coisa desde que envidasse os esforços necessários. Era uma confiança um tanto ingênua. Talvez eu sinta falta de certa ingenuidade. Mas isso é um caminho que não queremos trilhar agora.

Ah, achei também a águia de um comando em ação que eu tinha. O boneco já foi embora tem tempo junto com as minhas bonecas (eu fazia casais bizarros com as moranguinhos e os comandos), mas a águia ficou. Mas a maior sacanagem foi descobrir pertences alheios no meu armário. Tipo uma pasta com papéis da minha mãe e uma pilha de papéis que eram matéria da faculdade da minha irmã. Macroeconomia no meu armário? I don’t think so...Bem, agora tá tudo arrumadinho. Quer dizer, mais ou menos. É que tem um armário de livros no meu quarto que eu tenho certeza que tem coisa que pode ir embora. Afinal, eu sei que dentro dele tem uma pilha de livros de história infantil, agendas de 93 a 97 e outras merdas. Enfim, out with the old, in with the new. É preciso se livrar do velho para se preparar para novas coisas. Alguns diriam que isso é uma atitude positiva que atrai alguma espécie de renovação e blá blá blá. Outros diriam que é algo terapêutico. Eu não sei se é uma coisa ou outra, só sei que eu continuo acumulando coisas então tenho que me livrar de outras. É uma questão de espaço. Aliás, fiquei assustada com a quantidade de livros que eu tenho (e como eles ocupam espaço!).

Mas nada disso teria acontecido não fosse minha recente falta do que fazer. Esse negócio de ter tempo livre demais atrapalha as pessoas. Pra fechar o caos dos últimos dias, um CD estilhaçou dentro do drive. Ou seja, to sem CD. E lá vou eu ter que comprar outro drive...
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