08 julho 2006

Isso aqui anda desatualizado. Eu sei. Bem, eu estava sem tempo de escrever. É engraçado isso, porque o dia todo acontecem coisas ou eu penso coisas que dão aquele estalo "hum, isso daria um post", e aí eu chego em casa no fim do dia sem a menor vontade de postar. E então passa. E a minha cabeça é uma coisa meio estranha, porque eu vou encadeando pensamentos até não saber mais como tudo começou, aí faço o caminho de volta. Enfim, coisa de gente doida. Ou normal, vá saber...mas isso não tem nada a ver com o que eu quero dizer. É que eu sou bem pouco objetiva.

Eu li o seguinte:"Eu nasci em 1973. Fiquei 21 anos na fila pra ser campeã mundial. Todo mundo era tri do mundo. E o tetra era tipo um sonho que nunca se realizava. E Copa do Mundo era um campeonato muito, muito difícil. Daí do tetra pro penta, foi um minuto. E a Copa de 98 é considerada um incidente pelo povinho. Você sabe de quem eu estou falando. Do pessoalzinho nascido na década de 80. Argh. Mas que gentinha. Eu acho mesmo que eles precisam aprender a dar valor a esse título. Nada melhor do que a Itália tetra. E no nosso seu encalço. Acorda, molecada. 94 foi sorte. 2002 foi no Japão. Copa do Mundo não é rave não. É preciso resgatar de uma vez. O que significa a Itália numa copa e tal. Na boa. Os eighties nem sabem o que é peso de camisa. Só enxergam amarelo. Babacas".

Daí que eu fiquei indignada né. Como assim, gentinha? Babacas? Ah não, isso mexe com o meu orgulho, minha arrogância habitual. Porque eu sou filha da década perdida. No fundo acho engraçada essa visão. Pensar que quem nasceu nos anos 80 acha que a Copa do Mundo é sempre nossa e etc. Eu acho injusto isso. Eu esperei pra ver o Brasil campeão. Eu lembro que quando eu era pequena não tinha na cabeça essa imagem clara do que era o Brasil no cenário mundial de campeões. Tá, eu sabia que o Brasil era tri-campeão, mas na minha cabeça isso era acidente de percurso, eu achava que o Brasil era O saco de pancada mundial. Eu lembro nitidamente do gol do Caniggia e da minha decepção em 90. Lembro inclusive de pensar um "ah, sabia que isso ia acontecer, a gente nunca vence". Loser total. E eu conheço a tragédia do Sarriá. Então eu acho injusta essa história de gentinha que não dá valor ao título. Tá, 94 foi um título merda, mas era a primeira vez que eu via o Brasil vencer. Depois veio 2002, a copa começou e eu pensei que íamos nos foder de verde e amarelo, loser como sempre, mas ganhamos. E toda copa é assim, eu sempre acho que vamos levar um pau das outras seleções, mas mantenho alguma esperança do tipo quem sabe chegamos lá.

A questão é a seguinte: eu acho que somos a geração perdida. E somos losers. Mas também somos um bocado esperançosos. Digo, como geração. Então até aceitamos as derrotas e sabemos que elas fazem parte do jogo, mas no fundo exigimos bastante porque sabemos que não é absurdo, não é algo intangível. Não é que exista a obrigação de vencer sempre, a obrigação é sim chegar o mais longe possível. De preferência jogando bem.

Como assim não conhecemos peso da camisa? Eu acho isso engraçado. Se duvidar acompanhei mais coisa que muita gente da década de 70. E ver ao vivo não quer dizer nada. Grande parte da população mundial não acompanhou o holocausto, mas o peso dos fatos os atinge. Assim como vc não acompanhou o movimento sufragista, mas você vive a questão, é importante pra você, te atinge. Você acabou retratando os alienados de 80. Acredito que a maioria de nós viveu intensamente os insucessos do intervalo 70-94, mesmo que por imagens de arquivo. E se é pra falar de tragédias, poucas coisas no futebol me afetam tanto quanto a copa de 50. Dilacerantes as imagens do Maracanazzo. Ainda mais como carioca. E que o resto do país se rasgue de raiva, mas nada combina mais com futebol no Brasil do que o Maracanã. O eterno maior do mundo (mesmo que construam 500 outros maiores).

[ironia]Mas no fundo eu perdôo quem nasceu nos anos 70. A visão deles é um tanto revolucionária demais. Aquela coisa de querer ser libertário, se livrar da repressão, essas coisas[/ironia]. As pessoas de 70 me parecem querer provar alguma coisa sempre. Acho que as pessoas de 80 têm uma visão mais prática. Não temos nada a provar, a não ser pra nós mesmos (pode gargalhar do que eu disse agora, Cris. hehehehe).

E tem mais um monte de coisas que eu podia dizer, vários argumentos, que agora não consigo lembrar. Uma vez eu falei sobre isso numa entrevista. Me perguntaram: mais alguma coisa que você queira falar sobre você? E eu respondi: nada mais me ocorre agora, mas eu tenho certeza que assim que eu passar por aquela porta vou pensar em umas 10 coisas que eu podia ter dito.

É sempre assim, sempre fica algo por dizer.
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